Monday, 25 April 2016

Elantris, Brandon Sanderson

Sou oficialmente fã do Brandon Sanderson. Depois de ler Elantris - o livro que vários amigos e opiniões na internet dizem ser o menos bom - e gostar, tenho que o admitir. Concordo que de facto o livro não é tão bom como os da saga Mistborn, seja pela menor experiência do autor na altura, seja porque trabalhou menos bem certos temas ou eventos no enredo. Apesar disso, gostei bastante da leitura, da apresentação do mundo, da lenta revelação dos seus segredos, do que ficou por explicar, de algumas personagens, da transformação das personagens secundárias e, como já me habituou, da forma como Sanderson opõe certas formas de viver em sociedade e põe as próprias personagens a questionar-se sem respostas absolutas.


Elantris - que dá o nome ao livro - era a cidade onde viviam as pessoas que, aleatoriamente, sofriam uma transformação e tinham acesso a magia poderosa, vivendo e sendo até venerados como deuses na terra, até que há dez anos um evento que mudou a face da terra os fez perder o poder, transformando todos os elantrians e os que foram sendo aleatoriamente transformados em seres que lembram zombies, coração parado, não se curam, não morrem, mas continuam a pensar e a sentir. É uma distopia literal. O principal enredo do livro, ou pelo menos o mais interessante, centra-se neste local e em Raoden, o príncipe do reino de Arelon que se torna elantrian e é lá enfiado - como a sociedade tantas vezes faz com aqueles de quem não gosta, de quem se envergonha ou tem medo - e no seu eterno optimismo na face do manifesto desespero que comanda Elantris. Raoden é provavelmente a personagem de que menos gostei, embora seja um bom motor para a exploração de algumas questões muito relevantes (e de gostar de livros e ler para resolver problemas!).

Fora de Elantris, a noiva deste príncipe - Sarene, princesa de outro reino - julga-se viúva e fica em Arelon, sendo o veículo e a força motriz para a evolução do sistema político e da sociedade do reino, tanto na luta feminista - infelizmente por vezes algo cliché - como na luta contra o despotismo, a escravatura e valorização política do dinheiro. A forma como lida com o rei, com nobres e com as mulheres que se deixam minimizar mantém Sarene uma personagem sempre interessante de seguir.

O terceiro eixo da história é o grande inimigo, que nunca falha nos livros de fantasia. Aqui o "mal" é representado por um império centrado numa religião totalmente hierarquizada, na qual cada pessoa deve absoluta obediência ao seu superior directo e assim sucessivamente, até ao imperador que é o único que fala com deus e só a ele obedece. No enredo conhecemos este inimigo - cuja intenção é controlar todo o mundo, eliminando quaisquer outras crenças ou resquícios delas - através de um dos seus agentes, Hrathen. Vendo-se enviado a Arelon para converter o reino dentro de um prazo apertado, para que o seu imperador não "tenha" que o conquistar à força com as mortes que isso implica, a relação de Hrathen com a sua religião torna-o na mais interessante das personagens principais, se bem que os seus capítulos são frequentemente menos agradáveis de ler pela quantidade de informação que o autor aproveita para fornecer nos seus monólogos reflexivos.

Este livro tem dois pontos fortes: os movimentos de grandes forças e as mudanças globais das comunidades - algo que me parece que Sanderson consegue sempre fazer bem - e a evolução de algumas personagens secundárias.
Não vou fazer spoilers, não direi nada do que acontece ao longo da história. Desta introdução já se percebe que ao mesmo tempo temos uma força conquistadora, luta entre diferentes visões da sociedade e um local lendário a precisar amargamente de obras de reabilitação. Ao longo do enredo pensa-se a monarquia, pensa-se a democracia, pensa-se o poder do dinheiro, pensa-se a tradição e o progresso, pensa-se a comunidade e o indivíduo, pensa-se a motivação e a depressão, pensa-se a ideia feita, o preconceito, a perfeição aparente, a imperfeição constante.

A questão da evolução das personagens é sempre relevante, nomeadamente porque muitas vezes é a acompanhar a mudança individual, a aprendizagem, os erros, o crescimento da personagem principal que o leitor sente ganhar com a história. Em Elantris, Raoden e Sarene pouca ou nenhuma evolução têm, aquilo que os motiva e o que os preocupa é o mesmo no princípio e no fim. As suas forças e as suas fraquezas mantém-se ao longo de todo o livro. Pode ser uma fraqueza na história, mas não tem que ser. Na verdade, eles são os pilares à volta do qual tudo o resto acontece. Hrathen tem uma evolução interessantíssima. As personagens secundárias, tocadas de uma forma ou outra pelos principais, vão-se transformando e são do que mais gostei em Elantris. Na nossa vida parecemos muitas vezes personagens principais, mas a verdade é que não passamos de mais um indivíduo no mundo e a nossa relação com a esmagadora maioria das coisas é secundária, tal como acontece com estas personagens. A sua importância está nos seus actos nos momentos em que lhes é possível serem relevantes e não no facto de todo um enredo se centrar neles por qualquer destino ou porque todos os olhos recaem neles ou porque por sorte estão constantemente no local certo com a arma certa para a luta necessária.


Volto a dizer, Elantris não está ao nível de outros livros de Sanderson. Há momentos forçados no enredo, há falta de subtileza, há eventos que uma leitura atenta mostra desnecessários, há clichés de que não gostei - detesto deus ex machina predestinados -, há capítulos em que há mais informação despejada no leitor do que progressão da história e a prosa de livros mais recentes é mais polida. Mas os pontos positivos, particularmente para quem, como eu, gosta de ver uma história que lida com comunidades inteiras, com religiões, tradições e políticas, com a humanidade, ao mesmo tempo que as pequenas coisas se mostram importantes para cada personagem, facilmente suplantam os pontos negativos. E sim, há coisas que ficam por explicar, como tantas vezes já li em opiniões sobre este livro. Quanto a isso só posso dizer deal with it. A vida é assim, há coisas que nunca percebemos e por vezes é mais interessante ficarmos a lidar com a pergunta do que levarmos com a resposta de bandeja. De resto, há espaço para sequelas - se bem que não são obrigatórias, o livro vale por si só -, portanto, é questão de aguardar.

Recomendo Elantris para fãs de fantasia épica e principalmente para os fãs de Sanderson, é interessante ver como começou e ler mais uma entrada do seu universo partilhado.


“To live is to have worries and uncertainties. Keep them inside, and they will destroy you for certain - leaving behind a person so callused that emotion can find no root in his heart.”

Review in English here.

Friday, 1 May 2015

Ze-que-ze-que - posição oficial de um sindicato de enfermeiros?


Este Sindicato dos Enfermeiros publicou uma posição sobre as Unidades de Saúde Familiar - disponível aqui - que merece ser ouvida. José Azevedo diz coisas tão absurdas e imprevisíveis que fariam empalidecer o brilhantismo dos nossos mais famosos comediantes.

Desde afirmar que os cuidados preventivos em saúde são uma função só da enfermagem, que os médicos só se sabem centrar na doença (para mais tarde dizer que não percebe o conceito de médico de família - pois), até inferir que as Unidades de Saúde Familiar não deveriam existir, que os cuidados primários deveriam consistir apenas de enfermeiros que enviariam os utentes ao médico "quando necessário" após triagem só eles capazes de fazer. Claro que o fim, por entre a batalha contra os médicos que se querem imiscuir nas funções de enfermagem, a mania dos governantes de se preocuparem com a família dos médicos e o "zeque-zeque", é ainda melhor que os restantes sete minutos.
Voltando ao princípio, o que aqui me preocupa é: isto é um enfermeiro a falar? é alguém que faz alguma ideia do que é prevenção em saúde? sabe alguma coisa sobre a formação da especialidade de medicina geral e familiar? sabe o que é um centro de saúde? E este sindicato, é real? Ou é um delírio de um só homem?

Monday, 6 April 2015

Fritz Haber and the twentieth century

"A German Jewish scientist, his invention with his brother-in-law Carl Bosch of the Haber-Bosch process, to make ammonia fertiliser, enriched the whole world. Estimates of the number of people who are alive today on account of his invention are in the hundreds of millions, and even in the billions. What a great benevolence to mankind, you might say, what a saviour of lives! But the same man was also responsible for the invention of chemical warfare. He not only invented chlorine gas but personally supervised its use against English and French troops at Ypres in 1915. His creation of nitric acid for explosives and his ammonia fertilisers were said by Max Planck to have prolonged the First World War by a full year. His life story is thus one of the most conflicted you could ever possibly come across. He hoped by his contributions to the war effort to prove himself a German patriot despite being a Jew; but his wife, who was also a scientist, was so distressed by his work on chemical warfare (not to mention his disregard of her career) that she shot herself on the day he was promoted to the rank of captain. Worse was to follow. After the First World War, Haber led the team that invented the cyanide-based insecticide Zyklon B. It was this chemical that was used to murder vast numbers of Jews in the Nazi death camps during the Second World War. It seems fitting that as we draw to the end of this chapter, we face a final war-related irony: that the man who saved more lives than anyone else was also responsible for millions of deaths."


Ian Mortimer in Centuries of Change:
Which Century Saw the Most Change and Why it Matters to Us (2014)
[review here]

Sunday, 5 April 2015

Centuries of Change - Which Century Saw the Most Change and Why it Matters to Us by Ian Mortimer

Com este livro Ian Mortimer propõe-se a analisar os últimos dez séculos ao nível das mudanças que se observaram na civilização humana - centrado na sociedade ocidental - num exercício que pretende determinar qual foi o século que viu maior mudança.

O autor começa por explicar a sua abordagem, justificando a opção de se dedicar ao ocidente, e depois faz uma descrição de cada século tendo em conta as mudanças e os agentes de mudança a cada momento. Este caminho acaba por ser uma óptima forma de recordar a nossa história o caminho que a nossa civilização percorreu até se tornar no que é agora.
No final, o autor olha para trás e recorre a alguns critérios para poder determinar as principais mudanças e agentes e consequentemente, os séculos em que maiores mudanças ocorreram, até à decisão final.
Se é verdade que nem sempre concordei com a eleição do autor - o que obviamente se relaciona com os valores individuais e perspectivas a priori, como o próprio refere - é igualmente verdade que o autor soube sempre justificar as suas opções de forma lógica e credível.

O interesse deste livro, mais do que o cálculo ou a comparação para determinar o vencedor, é o que lembra o próprio subtítulo - porquê que isso é importante? 

"Breaking down the overarching concept of change into smaller facets has allowed us to glimpse the dynamics of long-term human development. We can see that not all change is technological: it includes language, individualism, philosophy, religious division, secularisation, geographical discovery, social reform and the weather."

Mortimer termina com uma análise muito relevante da nossa evolução civilizacional e uma previsão do que poderá ser o nosso caminho no futuro a médio-longo prazo. 

O século vencedor? É um pormenor.


Tive acesso gratuito a este livro através do NetGalley.



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With this work, Ian Mortimer intends to a analyse the last ten centuries and determine the changes in human civilization - focused on the so called western world - with the purpose of finding the one which saw the biggest changes.

The author starts by explaining his approach, justifying the option for the western civilization, and then, chapter by chapter, describes each century taking into account the changes and the agents of those changes at the time. This method ends up becoming a good way to remember history and the pathway our civilization has treaded before it became what it is today.
After this, the author looks back and uses some criteria to be able to determine the main changes and agents and the centuries that saw them happen.
I didn't always agree with the author's choices or opinions - something that is obviously related to individual values and perspectives, as the author himself refers - but he does explain his options showing sound logic and justification.

The main relevance of the book, in my opinion, much more than finding out in which century we changed the most, is what the subtitle asks - "Why it Matters to Us?"

"Breaking down the overarching concept of change into smaller facets has allowed us to glimpse the dynamics of long-term human development. We can see that not all change is technological: it includes language, individualism, philosophy, religious division, secularisation, geographical discovery, social reform and the weather."

Mortimer ends with a very relevant analysis of our civilization's evolution and a prediction of what our future can hold.

The winning century? It is but a detail.


I had free access to this book through NetGalley.

Friday, 2 January 2015

2014: Retrospectiva

Eu dizia num comentário com amigos há uns dias que 2014 foi essencialmente um ano esquisito para mim. Não preciso de recuar muito tempo para recordar um André que seria incapaz de prever um ano destes. Talvez também por isso 2015 me pareça imprevisível (de resto, não só a título pessoal). Bem, tudo isto à parte, a ideia de fazer uma retrospectiva é tanto forçar-me a reavaliar coisas como conseguir fazer algum tipo de recomendação a quem segue o blog desde os tempos em que estava mais activo.


Leituras

Houve tanto que gostei de ler este ano que se torna difícil fazer um top de favoritos ou recomendados, mas vou tentar.

Livros técnicos e não ficção:

Bad Pharma, de Ben Goldacre: livro obrigatório para médicos muito recomendado para qualquer profissional de saúde, bem como para quem procura informação sobre a relação entre a investigação científica, a indústria farmacêutica e a saúde. É uma visão provavelmente assustadora, mas que aponta um claro caminho para melhorar.

If This is a Man / The Truce, de Primo Levi: livro obrigatório para todo o ser humano que saiba ler. A história de um homem que passou pelo holocausto, por Auschwitz, pelo resgate russo, pelo regresso a casa e pelo retorno a uma suposta vida normal. Ler isto é conhecer a humanidade no seu pior e isso é essencial para conhecer a humanidade.

Austeridade: A História de uma Ideia Perigosa, de Mark Blyth: o título fala por si. De resto, acrescento apenas que é um livro interessante, compreensível para leigos e muito relevante para avaliar o que nos tem sido proposto/imposto nos últimos anos.

Fantástico:

NOS4A2, de Joe Hill: fantasia, algum horror, muito suspense, este livro é uma maravilha, seja pela prosa incólume do Joe Hill, seja pelas referências, as metáforas, o food for thought, questionar moralismo, valor da inocência, a diferença entre estar certo, saber a verdade e fazer bem, sei lá. Há uma personagem que rapta crianças e as leva no seu Wraith (o carro) para Christmasland (um parque na imaginação dele?), outra que sai de bicicleta e atravessa uma ponte (imaginária?) para onde precisa de ir, e ainda outra que adivinha (ou interpreta?) coisas com peças de Scrabble. Não quero dizer mais.

The Disposessed, de Ursula K. Le Guin: a autora dispensa apresentações, no entanto este foi o meu primeiro contacto com ela. Ficção científica com relevância sociopolítica? Sim, quero mais por favor.

The Boy Who Cast No Shadow, de Thomas Olde Heuvelt: uma pequena história sobre crianças "diferentes".

Transhuman, de Jonathan Hickman e J.M. Ringuet: o aparecimento de uma nova tecnologia, as guerras entre as empresas, o mercado, enfim, o capitalismo desenfreado mas desta vez a novidade são seres humanos modificados (melhorados?).

Pax Romana, de Jonathan Hickman: o Hickman é um génio. A igreja católica manda uma equipa ao passado para mudar a história a seu favor, mas o agente tem ideias próprias...

Iron Man: Fatal Frontier, de Al Ewing et al: o Iron Man é o típico idiota convencido de que é tão esperto e poderoso que tem sempre razão e tudo o que faz é justificado, em Fatal Frontier esta característica é particularmente bem explorada. Esta história tem o benefício de poder ser lida independentemente da continuidade das comics.

Doctor Strange: Season One, de Greg Pak e Emma Ríos: o Strange tem uma das melhores origens de super-heróis que conheço. Faz dele real, humano, dá-lhe significado para além das tretas habituais. Olhar novamente para a origem, de uma forma ligeiramente diferente, foi um prazer.

La Belle Mort, de Mathieu Bablet: como tudo o que já vi deste autor, este livro é lindo. A história é interessante. É num raio de uma língua que eu pouco percebo, mas para este compensa muito o investimento.


Séries ou relacionados:

Lazarus, de Greg Rucka e Michael Lark: uma representação futurista e distópica da nossa realidade, centrada numa mulher que foi concebida para ser quase imortal e lutar as guerras pela sua "família". Condicionamento, emoção, humanidade, sociedade, há aqui caminho para tudo. Li os primeiros dois volumes e vou continuar.

Über, de Kieron Gillen e Caanan White: história alternativa. E se os nazis conseguissem mesmo criar um super-humano? Só posso dizer que isto está mesmo muito bem escrito e que vale a pena experimentar.

East of West, de Jonathan Hickman e Nick Dragotta: não sei o que dizer sobre isto. É uma história esquisita, com personagens esquisitas saídas sei lá de onde. E os cavaleiros do apocalipse. E o próprio apocalipse? E um mundo dividido e controlado por meia dúzia de poderosos? Onde é que eu já vi isto...

The Manhattan Projects, de Jonathan Hickman e Nick Pitarra: história alternativa a partir da Segunda Guerra Mundial, com super-cientistas, super-loucos, alienígenas e dimensões alternativas. É confuso, mas só o suficiente para não se poder evitar ler o volume seguinte.

Mind MGMT, de Matt Kindt: acaba-se de ler e apetece reler. Li apenas o primeiro volume, mas os próximos estão na calha, sem qualquer dúvida. Ficção científica e poderes da mente resulta em dúvida constante, até mesmo para o leitor.

The Massive, de Brian Wood: a Terra depois de um apocalipse ambiental. Muito importante, muito relevante e muito bem feito.

Batwoman, de J.H. Williams III e Haden Blackman: quando se dá a alguém liberdade para explorar um super-herói, sem o interromper com eventos e afins, é isto que se espera. Só é pena que não pudessem ter continuado.

Fables, de Bill Willingham: cheguei este ano ao volume 16 e a série continua óptima, tanto pela subversão das histórias infantis como pelo que transmite através dela.

The Victories, de Michael Avon Oeming: heróis e vilões são pessoas, pessoas podem ser heróis e vilões, ideias que são exploradas hoje talvez mais do que nunca, mas particularmente bem nas mãos deste autor.

Suicide Risk, de Mike Carey e Elena Casagrande: O primeiro volume foi o melhor, mas a série continua a ter potencial na exploração de uma humanidade com super-poderosos.

Astonishing X-men, de Warren Ellis: A série "astonishing" tem o benefício de poder ser lida isoladamente do universo Marvel, bem como de ter tido autores tão bons como Warren Ellis, especialmente no Ghost Box.

Saga, de Brian K. Vaughan e Fiona Staples: uma série que vive na sobreposição dos temas típicos da fantasia e da ficção científica e explora questões relevantes. A fama de Saga é mais que merecida.

The Unwritten: Tommy Taylor and the Ship that Sank Twice, de Mike Carey e Peter Gross: De maior relevo para quem conhece a série, mas potencialmente uma porta de entrada para interessados.

Lucifer, de Mike Carey: li o primeiro volume e estou convicto que lerei toda a série.

Locke & Key, de Joe Hill e Gabriel Rodríguez: li este ano o volume final de uma das melhores séries de fantasia e weird que já li. 

The Absolute Sandman, de Neil Gaiman: li o primeiro volume da série Absolute e em 2015 vou ler o segundo. É do melhor que há em banda desenhada.

X-men: Days of Future Past, de Chris Claremont e John Byrne: diferente do filme e continua a valer a pena ler, embora tenha muito mais interesse para quem conheça os X-men.

Young Avengers, de Kieron Gillen e Jamie McKelvie: outra vez o Kieron Gillen, outra vez bom. Aqui a representação super-humana do conceito geral da nossa actual "juventude". Vale a pena ler, conheça-se ou não o universo Marvel.

Elektra, de Haden Blackman e Mike del Mundo: pode ser lida independentemente do restante universo Marvel; o autor soube dar uma perspectiva mesmo interessante sobre a personagem, muito para além de ser uma assassina eficaz a "redescobrir" a vida, e Mike del Mundo é o meu ilustrador favorito do momento. Esta banda-desenhada merece ser lida, relida e exposta numa galeria de arte.

Moon Knight, de Warren Ellis e Declan Shalvey / Brian Wood e Greg Smallwood: pode ser lido independentemente do restante universo Marvel e é uma história sobre um louco com múltiplas personalidades a tentar ser um herói à(s) sua(s) maneira(s).

Black Science, de Rick Remender e Matteo Scalera: um princípio muito prometedor de uma série de ficção científica em que as personagens exploram realidades alternativas.


Super-heróis e BD seriada:
(separei aquela BD cuja leitura foi feita de forma seriada e cuja recomendação é diferente da isolada conforme fiz acima, tendo em conta que li várias que se intersectam e cuja história é influenciada por isso, bem como o facto de conhecer bem as personagens e histórias prévias)


Storm, de Greg Pak e Victor Ibañez: na verdade pode praticamente ser lido independentemente do resto do universo Marvel, mas beneficia disso. Personagem feminina forte, com uma história relevante, que quer abordar a vida de uma forma diferente, mais irreverente, mais heróica talvez, mais arriscada sem dúvida. A Storm já foi uma deusa, já foi uma ladra de rua, já foi líder de grupos de heróis, já foi casada e rainha, e muito mais. Com toda esta bagagem e tanta "humanidade" que a caracteriza, esta história torna-se ainda mais interessante.

Magneto, de Cullen Bunn e Gabriel Hernandez Walta: para quem conhece o Magneto e tem seguido a sua história e a dos mutantes, esta banda desenhada é uma delícia. A sua história de vida, a ambiguidade do que ele é e do que ele faz, as questões relevantes que coloca, Magneto continua a ser uma das personagens mais interessantes de todo o universo Marvel.

X-men Legacy, de Simon Spurrier: centrado numa personagem, mas mais interessante para quem conhece bem o universo. O David Haller / Legion é uma pessoa, mas é muitas pessoas, muitas capacidades, pode fazer tudo ou acabar por não fazer nada, e pode ainda fazer tudo bem ou tudo mal. Desta vez está a tentar por ordem na sua cabeça com demasiadas personalidades perturbadas. Mas quem é ele?

X-men, de Brian Wood: X-men como deviam ser escritos. Mulheres que não pedem para ser símbolos femininos. Pessoas que querem fazer coisas, que querem mandar, que acham que têm razão, que culpam e que perdoam, que lidam com o pior que há. Vale a pena.

Iron-man, de Kieron Gillen: Óptima perspectiva sobre o Iron-man e uma redescoberta de todo o seu passado (origem?) que muda a sua forma de ver o mundo (ou só temporariamente, porque vem aí outro evento). Kieron Gillen voltou a fazer um bom trabalho, como tem sido constante na Marvel, veremos onde aparece a seguir.

Uncanny X-men, de Brian Michael Bendis e Chris Bachalo e All-New X-men, de Brian Michael Bendis et al: vale a pena ler simultaneamente e por vezes também Wolverine & the X-men, são boas histórias de x-men, de maior interesse para quem conhece as personagens e tem seguido a sua história. A arte do Chris Bachalo continua a ser muito boa.

Avengers / New Avengers, de Jonathan Hickman: Hickman é um génio (já disse isto antes?). Nunca gostei tanto de ler Avengers como agora, na sua expansão e acção para além da Terra. Os New Avengers armam-se em donos do mundo e tomam para si decisões que, quiçá, nunca deveriam estar na mão de ninguém. Mas por vezes não há opção (ou há?). Do melhor que há na Marvel neste momento, mais ainda se acompanhado da leitura de Avengers World, de Jonathan Hickman e Nick Spencer, enquanto se vê as várias histórias a tornar-se uma só. O evento ainda decorre pelo que não posso comentar o final.

Thor: God of Thunder, Vol. 4: Last Days of Midgard, de Jason Aaron e Esad Ribic: Aaron começou bem, depois piorou no terceiro volume, mas voltou bem nesta última história de Thor, antes do rapaz deixar de conseguir pegar no martelo e aparecer uma mulher Thor. Quanto a essa, ainda não sei o que dizer.


Outros:

Inércia, de André Carrilho: para desfrutar lenta e repetidamente.

La Sombra del Viento, de Carlos Ruiz Zafón: eu li em espanhol e quando puder vou querer ler o seguinte. O livro é um prazer para amantes da leitura e da literatura, mas não se fica por aí. A exploração da natureza humana e a referência à ditadura e guerra civil espanholas dão-lhe um outro nível, e o desenvolvimento das personagens é maravilhoso. Recomendado a quem goste de um mistério revelado lentamente com um leve toque de fantasia.

To Kill a Mockingbird, de Harper Lee: clássico, sem dúvida.



Cinema e Televisão

Este ano fui pouco ao cinema e quase não vi séries, pelo que tenho muito pouco a recomendar.

Cinema:

A grande surpresa deste ano para mim foi o Boyhood (Richard Linklater). Esperava que fosse bom, mas foi quase perfeito. É um filme que é tanto melhor quanto quem vê esteja capaz de levar consigo, da sua própria história, das suas próprias emoções. É muito mais que uma obra original por ter sido filmado com as mesmas pessoas ao longo de mais de uma década. Ainda não me saiu da cabeça. Recomendo a toda a gente.

Outros filmes que gostei:

Her (Spike Jonze), um filme essencial sobre a contemporaneidade levada ao absurdo e os conceitos de personalidade e pessoa, isolamento e comunicação. Dos melhores filmes que já vi.

12 Years a Slave (Steve McQueen), um óptimo filme, que justifica bem os Oscars que ganhou e aborda uma temática essencial, mas que acaba por não conseguir ser o filme da minha vida. Recomendo a todos os que ainda não viram.

Blue Jasmine (Woody Allen), porque o realizador é bom, a história é relevante e a Cate Blanchett é perfeita.

Guardians of the Galaxy (James Gunn), porque há muito tempo que um filme não me proporcionava umas horas tão bem passadas e tanta boa disposição no meio de uma ameaça a toda a galáxia. E porque o Groot é óptimo. E a banda sonora também.

X-Men: Days of Future Past (Bryan Singer), com mutantes, bons actores e viagem no tempo. Não foi tão bom como o First Class, mas valeu bem a pena ver.

The Grand Budapest Hotel (Wes Anderson), um filme estranho, esquisito, especial, que leva mais longe o que o realizador já tinha experimentado em Moonrise Kingdom. Foi uma óptima surpresa no cinema e tenho intenção de rever. É sobre um hotel, sobre pessoas, sobre o fascismo e a Europa e toda a enorme mudança e é engraçado e emotivo. E deve ser muito mais coisas.

The Amazing Spider-Man 2 (Marc Webb), um bom filme de super-herói, com o Andrew Garfield e a Emma Stone perfeitos nos seus papéis, que continua muito bem o trajecto iniciado no primeiro filme.

Captain America: The Winter Soldier (Anthony Russo e Joe Russo): eu não gosto do Captain America, não gostei particularmente do primeiro filme, não procuro ler as comics em que a personagem entra, excepto quando os autores pegam nele e o transformam totalmente. Dito isto, este filme é bom, os actores estão muito bem, a história com expansão para o restante universo Marvel só enriquece. Uma surpresa.

The Book Thief (Brian Percival), é baseado no livro com o mesmo nome que adorei. Não é tão bom como o livro, mas a história está em geral bem adaptada e os actores estão muito bem nos seus papéis. Mantenho a recomendação: vale a pena ler antes de ver. Mais sobre o livro aqui.

Televisão:

True Detective, dois detectives a investigar um caso com contornos potencialmente paranormais ou pelo menos bastante mais estranhos que o habitual. A história é fenomenal, Matthew McConaughey e Woody Harrelson estão verdadeiramente geniais.

Orphan Black, teve um início muito interessante, com uma actriz impecável num papel (ou papéis) difícil, mas sem ter terminado a primeira temporada não posso dizer mais.