Monday 31 December 2012

2012: retrospectiva

Terminado 2012, decidi olhar para trás e pensar em destaques deste último ano para partilhar aqui. De acordo com o conteúdo do blog, e de acordo com a forma como passei este ano, há vários pontos que quero tocar.

Top / Favorito / Melhores do ano?

É difícil e talvez injusto escolher um só favorito ou sequer uma ordem de preferência em relação ao que li/vi/ouvi este ano, pelo que prefiro simplesmente referir alguns. Não falo do que foi lançado ou estreado este ano, não estou actualizado ao ponto de poder fazê-lo correctamente, falo daquilo que conheci e gostei em 2012.

Livros

Este ano não foi fenomenal a nível de romances e embora tenha lido bastante, não houve muitos que me tivessem enchido as medidas e rebentado a escala, por assim dizer. Habitualmente uma grande parte das minhas leituras insere-se no género fantástico, mas deste ano tenho pouco a destacar dentro da fantasia. Por outro lado, tenho muito mais a dizer a nível de ficção científica, ainda que nenhum destes sejam, a meu ver, geniais ou de leitura obrigatória:
 - Hunger Games de Suzanne Collins: Aqui está uma trilogia interessante, sobre um mundo distópico em que as pessoas são controladas pela divisão, controlo da comunicação, terror de guerras passadas e um espectáculo que segura tudo isto baseado claramente no Battle Royale. O conceito pode não ser novidade para muitos, mas a distopia e a reacção dos indivíduos e da sociedade aos vários acontecimentos está muito bem pensada e tanto a escrita como o enredo vão melhorando, sendo a parte final do terceiro livro - Mockingjay - o meu momento favorito. Falei do filme baseado no primeiro livro e da trilogia aqui.
 - The Difference Engine de William Gibson e Bruce Sterling: Peguei neste livro por ser um referido clássico de Steampunk e fiquei fã dos autores. Se a história é interessante e o desenvolvimento do enredo me conseguiu agarrar, o que me surpreendeu foi a investigação e cuidado com a escrita que esta colaboração exigiu. O contexto histórico, o discurso e comportamento das personagens colocaram-me no séc. XIX como nunca antes senti. É um livro de leitura difícil, pelo que o aconselho somente a quem estiver motivado a conhecer as origens do steampunk e que não se incomode com enredos pouco claros e finais indefinidos. Participei no episódio dos Diarios Steampunk em que se discutiu este livro, vejam aqui.
 - Scanner Darkly de Philip K. Dick: Foi o meu primeiro contacto com este autor e devo dizer que já quero ler muitos mais trabalhos dele. Se este livro não é perfeito, com alguns momentos de demasiada confusão, há um traço de genialidade de PKD que se vê claramente. Esta obra é excelente na sua exploração dos efeitos do consumo de substâncias psico-activas, criando um ponto de vista que resulta surpreendentemente bem. Para quem se interessa pela temática ou para fãs do autor, absolutamente recomendado, embora, tal como disse para o livro acima, é bom estar preparado para alguma confusão à medida que o enredo se enrola e desenrola.
Quanto a clássicos, há dois que finalmente li e tenho que destacar aqui:
 - Dracula de Bram Stoker: Acho que dizer o nome basta para a maioria das pessoas (quem é que não conhece o Dracula nos dias de hoje?), mas queria mesmo recomendar a leitura. É um óptimo thriller e o facto de estar escrito em formato de epistolário não só contribui para o suspense como torna a leitura muito mais interessante.
 - Household Stories by the Brothers Grimm: Já todos conhecemos muitas das histórias aqui incluídas, mas se não lermos a versão dos irmãos Grimm ou outra colecção clássica então na verdade não sabemos nada sobre elas. Estas histórias são aterrorizantes, por vezes absolutamente macabras, cheias de homicídios horríveis e com poucos finais felizes. São muito mais adequadas à educação de pequenos seres humanos para a vida real do que as tretas animadas que lhes damos na sociedade contemporânea, com princesas bonitas, príncipes corajosos e danças alegres no final (embora estes também tenham o seu papel, sonhar é bom!). Não é um livro genial, mas é sem dúvida uma leitura interessante, esclarecedora, e boa o suficiente para eu planear reler, desta feita na colecção organizada em 2012 por Philip Pullman.
Outro livro que não posso deixar de referir numa retrospectiva é Beyond Good and Evil de Nietzsche. Uma leitura que foi difícil, demorada, mas recompensadora como poucas. Falei, e muito, sobre esta obra filosófica aqui.
Quanto a outros géneros literários, seja por não ter lido ou por não ter gostado, não tenho livros a destacar. Quanto a autores portugueses, uma falha enorme na minha cultura literária, tanto quanto aos clássicos como aos autores contemporâneos, comecei este ano a conhecer alguns através dos Contos Digitais DN. É uma experiência ambígua, dado que gostei bastante de uns mas detestei outros. Por outro lado, ajuda bastante bem a definir quais os autores em quem vale a pena apostar e comprar romances. Para já, planeio ler João Tordo, Afonso Cruz e Gonçalo M. Tavares. Vou escrever sobre todos os contos numa série de posts que já iniciei aqui.

Por outro lado, quanto à banda-desenhada, 2012 foi um ano muito bom, li várias coisas surpreendentemente (e por vezes nada surpreendentemente) boas:
 - Journey into Mystery por Kieron Gillen: segui está série fascículo a fascículo e fiquei fascinado pela capacidade do autor de escrever uma história nova, refrescante, interessante tanto para novos leitores como para veteranos, sobre uma personagem tão conhecida como o Loki, evitando com mestria o efeito terrível que os vários eventos que atravessaram todo o universo da Marvel poderiam ter no desenrolar da sua história. Fiquei fã e em 2013 vou seguir o autor para o Iron-Man e o Young Avengers. Fora do universo Marvel, planeio ler o Phonogram.
 - Fables por Bill Willingham e Mark Buckingham: O universo que Willingham criou coloca todas as personagens das fábulas e histórias infantis em fuga do seu mundo para o nosso, onde se escondem bem e criam uma sociedade própria. O conceito é interessante, o enredo prende logo de início e o melhor de tudo é, sem dúvida, o desenvolvimento das personagens. Tenho lido as colecções em trade paper back e, apesar de alguns números menos bons, gostei de todos até ao oitavo e pretendo continuar a leitura em 2013.
 - Locke and Key por Joe Hill e Gabriel Rodriguez: Esta série tem sido muito falada por todo o lado na internet como uma das melhores BD da actualidade. Tenho que concordar. O conceito é uma casa cheia de chaves que ninguém sabe bem onde estão, cada uma com um efeito mágico diferente e imprevisível quando utilizadas na fechadura correspondente (e não falo só de portas). Isto permite criar uma história fantástica, por vezes assustadora, com personagens interessantes que se desenvolvem aos poucos ao longo dos vários volumes e com as quais consegui empatizar e preocupar-me. Um outro ponto positivo é a ilustração. Joe Hill e Gabriel Rodriguez conseguiram criar momentos em que os desenhos praticamente contam a história sozinhos, e tenho que me segurar para não passar à frente os balões na primeira leitura e seguir só a história desenhada. Uma maravilha.
 - Saga por Brian K. Vaughan e Fiona Staples: Já conhecia B.K. Vaughan do pouco que li de Y: The Last Man e ele continua a não desiludir. Saga é uma mistura de fantasia e ficção científica, com viagens no espaço, magia e uma realeza robótica, mas que segue uma família improvável que tenta fugir do conflito. Gostei muito do primeiro volume, que colecciona os primeiros seis números, e vou continuar a comprar em 2013. Comentário detalhado aqui.
 - S.H.I.E.L.D.: Architects of Tomorrow por Jonathan Hickman e Dustin Weaver: Já era fã de Jonathan Hickman e o seu Nightly News é dos meus livros favoritos, daqueles que recomendo a qualquer pessoa que pondere ler BD. Neste trabalho, explora o conceito das sociedades secretas que controlam o mundo através da S.H.I.E.L.D., a agência de segurança e espionagem mais importante do planeta Terra, como se ela estivesse presente na nossa história desde sempre, liderada por personalidades como Leonardo Da Vinci, Isaac Newton, Imhotep and Galileo, que sentiram a necessidade de unir as mentes mais brilhantes e corajosas nos momentos em que o mundo estava em perigo de acabar, seja pela vinda de Galactus, dos Celestiais, etc.. Mas este livro é, mais do que uma exploração especulativa do papel destas figuras históricas como heróis, um olhar para dentro da sociedade secreta, do quanto quer controlar, de até que ponto alguns estão dispostos a ir para manter esse controlo e liderar o mundo à sua maneira. Provavelmente, junto com Earth X, a melhor BD da Marvel que já li.


Música

Se fosse obrigado a escolher o momento musical do ano, teria que ser o concerto dos Coldplay no Porto. A banda esteve muito bem ao vivo, interagiu com o público, cantou musicas novas e lembrou alguns dos êxitos anteriores, apareceu num palco secundário no meio do estádio durante o concerto e até teve uns balões insuflados algures pelo meio das plateias. O pormenor que o distingue de outros concertos é, no entanto, a distribuição das pulseiras luminosas que acompanhavam o ritmo de algumas músicas com as suas luzes coloridas, fazendo o público sentir-se parte do espectáculo como nunca antes vi.

Quanto à música que ouvi ao longo do ano e queira recomendar, tenho que começar por falar de Halleluja de Leonard Cohen. Esta é, sem dúvida, a música que mais vezes ouço voluntariamente e desconheço outra que me consiga transmitir tanto mesmo depois da repetição. E não só a ouço cantada pelo próprio, no video disponível no youtube do seu concerto em Londres, como também algumas covers como a do Jeff Buckley, a do Rufus Wainright ou a da K.D. Lang. Procurem, vale a pena.
Também quero fazer referência a outros três artistas internacionais que gostei particularmente de ouvir nos últimos tempos, Peter GabrielJohn Grant (as Strongroom Sessions no youtube são uma maravilha) e Adele. Quanto a esta última, é de destacar o Skyfall, não só por ser tema do filme homónimo do 007 mas porque é provavelmente a melhor música dela, quando muito a par com o Set Fire to the Rain. Estou a ouvi-la agora mesmo, enquanto escrevo este post.
Quanto a artistas portugueses, vou também referir três. Primeiro falar dos Dead Combo, uma boa surpresa descoberta no episódio de No Reservations em que Anthony Bourdain visitou Lisboa. Se ainda não o fizeram, ouçam o álbum. Depois falar do Filipe Pinto. O vencedor do Ídolos finalmente voltou de Londres com um álbum - Cerne - e, muito embora a sua forma de cantar seja algo monótona, as letras das músicas, julgo que praticamente todas da sua autoria, são interessantes e originais considerando o habitual no nosso país. Ainda gosto de ouvir Insónia no rádio. Por último, a grande surpresa nacional foi, para mim, o regresso de Tiago Bettencourt com o seu álbum Acústico, do qual nem destaco músicas, porque sabe bem ouvi-lo como um todo.


Filmes

Cloud Atlas
A meu ver, foi o filme do ano. Não li o livro e parti para o filme com alguma incerteza, que ainda se manteve no início do filme. Mas se Cloud Atlas demora um pouco a mostrar as suas armas, quando o faz convence completamente, tendo-me deixado quase estupefacto. Passei vários dias a pensar no filme, que traz muita food for thought e entretanto escrevi uma opinião claramente insuficiente que publiquei aqui.

Black Swan
Finalmente vi este filme e só me arrependeria de não o ter feito mais cedo se não achasse que o vi precisamente com o mindset certo e o aproveitei ao máximo. Black Swan é uma maravilha do cinema, merece toda a fama e crítica positiva que obteve e mais. Também escrevi uma opinião sobre o filme aqui.

Não posso deixar de mencionar outros três filmes que por vários motivos diferentes também marcaram 2012:
 - The Hunger Games, por ser uma óptima adaptação de um livro e porque é um filme extremamente eficaz, que nos faz rapidamente preocupar com as personagens, odiar aquele mundo e os seus representantes máximos e nos deixa a pensar como somos todos peças de xadrez na mão dos poderes políticos e económicos e a que ponto eles estão dispostos a sacrificar peões. (Aconselho novamente a leitura da trilogia da Suzanne Collins, sobre a qual escrevi aqui)
 - Skyfall, porque estava à espera de uma pura treta que só interessasse por ser 007 e levei uma bela chapada na cara de Sam Mendes que conseguiu um filme surpreendentemente bom - provavelmente dos melhores dentro do universo 007 - e ao mesmo tempo uma bela saída e quase tributo a Judy Dench.
 - The Hobbit: An Unexpected Journey, porque adorei regressar à Terra Média, ao universo de Tolkien e à companhia de Gandalf. Pode ter sido algo arrastado e preferia que se tivessem planeado dois em vez de três filmes, mas vale a pena ver, vou decerto ver o próximo assim que estrear, e continuo a querer ir à Nova Zelândia e a querer encontrar o Ian Mckellen para lhe agradecer por ser dos melhores actores da actualidade e por conseguir criar aquele Gandalf (e o Magneto!). Comentário aqui.

Outras boas surpresas deste ano foram dois dos filmes do universo Marvel. Amazing Spider-Man tem dois pontos positivos que ficaram na minha memória: é absurdamente melhor que a trilogia anterior - que no final se tornou dolorosa de ver - e Andrew Garfield e Emma Stone estiveram muito bem. Apesar de não ser um fã por aí além do herói, quero mais deste Spider-Man de Andrew Garfield e Marc Webb. O outro filme surpreendente foi The Avengers, que Joss Whedon realizou ao ponto de o tornar dos melhores filmes de super-heróis de sempre e rebentar com as minhas sempre baixas expectativas em relação a este tipo de filme. Conseguiu torna-lo memorável de tal forma que já se diz que será o fenómeno correspondente ao Star Wars / Alien desta geração e que, em conjunto com The Dark Knight, vai colocar os filmes de super-heróis em alta como Lord of the Rings e Harry Potter fizeram com a fantasia.

Termino com as minhas grandes desilusões deste ano. The Dark Knight Rises foi provavelmente a minha grande tristeza ao nível do cinema em 2012. Depois de The Dark Knight - a meu ver talvez o melhor filme do seu género, a par com X-Men: First Class, mas mais que isso, uma obra que tem valor muito para além do tema do super-herói e do vilão - o terceiro e último filme do Batman de Christopher Nolan voltou ao básico, com demasiada tolice e cliché para valer a pena comentar. Não é um filme mau, entenda-se, mas podia ter sido muito bom e esteve longe disso. O outro filme que não podia faltar aqui é Prometheus. Esta obra tem três aspectos que quase a redimem: os trailers foram fenomenais, o andróide David é uma óptima personagem interpretada genialmente por Michael Fassbender e é visualmente bonito (e não me refiro somente à Charlize Theron). De resto, o filme é infinitamente inferior ao que os trailers faziam prever, David é a única personagem que interessa realmente (não que não houvesse boas performances, mas nem essas salvam personagens de si absolutamente irrelevantes), os alienígenas são simultaneamente geniais ao ponto de criar vida e brutos ao ponto de agir como ali se viu, as pessoas que trazem a tecnologia de mapeamento são as que se perdem, os melhores cientistas da Terra agem como adolescentes e eu podia continuar. Um filme que, sinceramente, não se perde nada em não ver já e aguardar pela sequela para saber se depois vale a pena voltar atrás e perder tempo.



Política

Crise - Troika - Ajustamento
Este ano foi mais uma vez marcado por estas palavras. Os portugueses e até uma boa parte dos europeus continuam sem perceber muito bem em que tipo de crise estão estes países, o que são estes planos de "ajustamento", e muito menos o que se pretende com a malfadada Troika. Não é o momento de fazer grandes explicações a este nível, mas não deixo de destacar alguns pontos importantes:
 - Continuamos a ouvir do nosso governo que a crise está para melhorar sem de facto estar, que as medidas de que ninguém gosta (até dão a entender que os próprios não gostam, embora as tomem) se devem à herança da governação anterior e, pior de tudo, que andamos a compensar os anos que vivemos acima das nossas possibilidades. Esclarecimento, se é que é preciso: não são pessoas que gastaram mais que o que tinham que estão a pagar isto, são todas as que não têm como fugir ao que este governo manda, por mais inocentes que sejam; se foi o estado que gastou acima das suas possibilidades, isso não se resolve com a perda de poder de compra de gente que já vive bastante abaixo do nível dos restantes países da Europa ocidental e do sul, mas com a correcção dos gastos em coisas mais supérfluas do que a sobrevivência do seu povo e das empresas, como gastos burocráticos e intermediários e as PPP e afins acordos em que o estado sustenta os amigos dos governantes ou os ex-governantes; por fim, se vivemos mal apesar do que gastamos, isso provavelmente não quer dizer que gastamos demais, mas que produzimos de menos - parece uma pequena diferença, mas é fulcral nesta situação;
 - Ajustamento não é uma palavra qualquer, muito menos quando vem associada a discursos do tipo "estamos a ser ajudados, apoiados, salvos". A ideia é convencer-nos de que precisamos deste programa e não nos podemos queixar nem contestar. De facto, Portugal, depois dos gastos ridículos  desde o governo do Cavaco Silva (pelo menos) e da especulação criminosa com a sua divida soberana no final do governo do Sócrates, precisa de ajuda. Mas este plano de ajustamento não é uma ajuda, é uma forma de nos por dependentes da caridade externa enquanto nos obrigam a pagar em juros tudo o que for possível e imaginário, até à exaustão. É essa a única explicação para empréstimos com estes juros, estas condições e esta interferência na política interna de um país. Ajustamento? Se querem mesmo ajudar Portugal, porque não começam por permitir a eliminação de uma das maiores parcelas do nosso gasto anual, os juros da dívida à Troika?
 - Troika, a palavra que mais jeito deu a este conjunto de abutres que pairam em cima das nossas cabeças. Desde o princípio desta situação que temi o uso desta palavra, que me insurgi por vezes contra o seu abuso nas notícias e conversas em todo o lado. Porquê? Porque para a generalidade das pessoas e em grande parte das conversas, a Troika torna-se o alvo das acusações que de outra forma encontrariam alvos reais e concretos, a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu, o FMI e os países que os controlam.
Na verdade, isto é tudo intencional, é tudo uma forma disfarçada de impor uma ideologia que não é a dos portugueses ao nosso país, ao mesmo tempo financiando a banca de outros.

Miguel Relvas
Quanto a "isto", só tenho uma coisa a dizer: como é que é possível que um homem mentiroso, que falsificou até mesmo o seu currículo académico, que parece andar frequentemente a exercer pressões a nível da comunicação social e que tem ligações mal definidas com empresários que são ou estão a tornar-se muito importantes em Portugal ainda não foi demitido do governo? Como é que ainda não entrámos pela assembleia dentro, num dia em que ele tenha lá ido mentir (vulgo, no caso dele, discursar), e o expulsámos a pontapé? É porque somos mansos e pacatos, ou porque somos "o melhor povo do mundo"?

Governo - a táctica:
Para além da irritante referência constante a Sócrates, este governo tem outro mecanismo para ir enganando o povo que governa e que foi especialmente visível este ano. Começa por anunciar, num conjunto de medidas terríveis, injustas, ou completamente estúpidas (como é seu hábito) uma especialmente má ou especialmente incompreensível, ou vá, não aplicável. Isto torna-se o alvo de toda a indignação, todo o comentário político, toda a oposição. De seguida, o governo volta atrás somente com essa medida, substituindo esse "erro" por algo, digamos, menos mau. A contestação diminui consideravelmente, e o resto da parvoíce que anunciaram passa por baixo da ponte e é aplicada, para o mal de todos nós.

"União" Europeia
No ano em que este agrupamento de países da Europa ganha o Nobel da Paz, custa mais do que nunca chamar-se união, comunidade, ou o que seja. Como é que é possível que um projecto anunciado como a solução para evitar as crises do passado, os ódios nacionalistas, as diferenças polarizantes, para melhorar a vida de todos os cidadãos europeus e para nos dar uma voz preponderante no palco mundial se tornou um mecanismo de aumentar o fosso entre os ricos e os pobres, entre os que mandam e os que obedecem, entre os exploradores, moralmente superiores e os delinquentes explorados, não sei dizer. Mas sei que, do que conheço da sua história, nunca como  agora foi tão óbvio que o projecto falhou e que precisa de ser "ajustado" ou destruído e reiniciado. Sim, porque eu continuo a ser a favor de uma coordenação dos vários países europeus, mas uma que não implique a destruição da nossa capacidade de produção e a nossa obediência aos planos e ideologias dos países que têm mais dinheiro e poder que nós.


Eu

O que mudou em 2012 a nível da minha presença online?
 - O meu blog voltou a estar activo e pretendo que assim continue (embora talvez não tanto como tem estado em Dezembro) dado que quero manter o hábito de escrever algo sobre o que leio, o que vejo, o que gosto e não gosto, o que penso, o que me indigna. Refiro-me principalmente a livros, filmes, séries, mas não só. Actualidade, política, ética e até mesmo assuntos profissionais poderão ser mais comentados, de acordo com a minha capacidade e possibilidade. Agradeço sempre comentários em relação ao que escrevo, mesmo que sejam para discordar de tudo!
 - Sigo muito mais blogs sobre livros, portugueses e estrangeiros, e estou a gostar da experiência, não só por conhecer novos livros, mas por ver outras formas de escrever e comentar, que só enriquecem os meus próprios textos. Agradeço sugestões de blogs que sigam e valham a pena.
 - Sigo blogs de filosofia e ciência há algum tempo, mas muito irregularmente, algo que pretendo corrigir de futuro. Há ideias que encontro nestes locais que não me chegam de nenhuma outra forma.
 - Twitter: Voltei a utilizar esta plataforma, interessante para o contacto do dia a dia e para seguir autores, actores, certas organizações e até agregadores de notícias. No entanto, apesar de manter contacto com várias pessoas quase somente através dele, o twitter traz consigo alguns problemas. Por um lado parece estar a levar as pessoas a esperar respostas directas e imediatas a tudo, dificultando conversas lentas, ponderadas e complexas precisamente com as pessoas com quem se fala diariamente. Claro que se pode dizer que o twitter não obriga a nada, mas pelo facto de estar sempre disponível e com novidades, acaba por diminuir o ímpeto para iniciar outro tipo de contacto ou conversa noutra plataforma. Penso nisto principalmente ao nível das gerações criadas num mundo de telemóveis, facebook, twitter e afins, que poderão acabar por limitar as suas experiências na juventude e ficar sempre algo impacientes no contacto social.
 - Clockwork Portugal: este ano dediquei-me a este projecto, do qual falei em pormenor aqui.

Quanto à vida profissional, 2012 foi um ano francamente mau. Não cumpri com os meus objectivos a nível de tempo dedicado a estudo que é sempre necessário mas principalmente em contexto de internato. Por outro lado passei o ano em estágios hospitalares e portanto quase ausente  daquilo que se irá tornar a minha prática diária - a consulta no centro de saúde. Os estágios em geral ficaram aquém das expectativas e acabei por perder simultaneamente muito do hábito e à-vontade na consulta. Algo a corrigir em 2013, se me deixarem.

Comecei a minha participação no Coursera - uma plataforma que agrega cursos online de várias universidades espalhadas pelo mundo - com o curso Fantasy and Science Fiction: The Human Mind, Our Modern World, infelizmente de forma muito incompleta, por falta de tempo. Já tenho planos para 2013.


E vocês, o que vos marcou no ano passado? Livros, filmes, séries, viagens, acontecimentos, situações? Concordam comigo? Se também fizeram restrospectivas ou tops de 2012, deixem o link nos comentários para eu ver.

1 comment:

  1. Eu fiz um post dedicado às minhas resoluções, que incluíram os livros: http://sofiaromualdo.wordpress.com/2012/12/31/looking-back-on-2012/ - mas não está tão detalhado como o teu. A verdade é que nem consigo escolher os livros de que gostei mais... Já em relação aos filmes, concordo com praticamente tudo o que disseste.

    Venha 2013. E em relação a Portugal... Bem, já sabes a minha opinião. Não há muito a acrescentar ao que disseste. Mas como gosto de ser positiva, deixo aqui as palavras do Tolkien:

    “I wish it need not have happened in my time," said Frodo.
    "So do I," said Gandalf, "and so do all who live to see such times. But that is not for them to decide. All we have to decide is what to do with the time that is given us.”

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