Tuesday 15 January 2013

Pensamento

Desde há muito tenho um caderno guardado para escrever. Foi-me oferecido e imediatamente decidi que só escreveria lá algo que valesse a pena. Passou-me pela cabeça escrever lá esboços de histórias que invento, citações de outros que julgasse de interesse para mim, coisas que não quisesse nunca esquecer. É um caderno que gosto muito, como objecto e como objectivo. Talvez seja esse o motivo de tanta hesitação quanto ao que fazer com ele. Talvez seja mais por eu ser como sou, e nunca achar que é desta que tenho a ideia certa para o começar, ou nunca achar que estou no momento certo para começar a escrever, ou então achar mas não ter a certeza e precisar de ter a certeza.

Assim chego ao dia em que finalmente, depois de muito tempo, me apeteceu escrever no bloco. Não tenho o pensamento perfeito, nem sequer um novo, mas tenho vontade. Fui buscar o bloco e deparei-me com um novo problema. Perdi a caneta com que queria iniciar a escrita no bloco. Ela sempre esteve aqui, já a usei para muita coisa, mas hoje não a consigo encontrar. Na minha ânsia de inaugurar o bloco, procurei debaixo da cama, dos tapetes, arredei móveis, usei a lanterna, esvaziei gavetas. Nada. A caneta desapareceu, talvez escondida pelos gatos, talvez levada por alguém que precisou de uma. Afinal, a caneta sempre esteve por aí pela casa, disponível. Menos agora.
Fui buscar outra caneta. Finjo que tem o mesmo significado que a outra e que não tem problema. Depois constato que isto não é verdade. Tento associar a inauguração do bloco à de uma caneta nova, guardada numa caixa bonita que alguém me ofereceu em tempos. É mentira. Nenhuma caneta tem o significado daquela. Talvez nem aquela. A verdade é que talvez ainda não tenha ultrapassado o primeiro problema, talvez ainda não esteja convencido que deva começar a escrever no meu bloco. Mas não passa de hoje. Vou escrever agora mesmo. Mal pare de escrever aqui. Porque raio vim eu escrever para o blog num momento destes, em que devia estar a escrever no bloco?

Hesitações. A vida é uma mistura de oportunidades, ideias, meios e motivação. Eu sempre tive a caneta, o pensamento, o bloco. Agora que pensei que tinha a motivação, perder a caneta fez-me pensar que desperdicei muitas oportunidades.


De escrever no bloco? Também. Culpa minha? Tantas vezes quantas tive o controlo da minha motivação, da minha força de vontade e da minha autoconfiança. Alguma vez? Não sei.

Um gato está a miar, deve querer comida.

3 comments:

  1. Gostei muito de ler este teu pensamento. Passaste para palavras alguns dos momentos que passei ao longo da minha vida...

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  2. Gostei.
    Adoro blocos e cadernos, nunca escrevo nada neles, são para guardar, até escrever algo de jeito, mas nunca escrevo de todo.

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    1. Pode ser que agora escrevas... ou então não :)

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