Tuesday, 29 January 2013

Wool Omnibus by Hugh Howey

Li Wool aconselhado por um amigo e porque queria experimentar um trabalho que foi self-published. Reconheço que a minha expectativa em relação a estas publicações são sempre mais baixas, não por não terem passado pelo crivo de qualquer editora mas porque há um exagero de treta em forma de livro pela internet fora, mas Hugh Howey surpreendeu-me e convenceu-me. Devo dizer que há muito que um livro não me dava tanta vontade de continuar a ler noite dentro tal era a minha curiosidade não só quanto ao enredo como quanto ao próprio mundo criado pelo autor. Terminei a leitura no dia 31 de Dezembro do ano passado, mas na altura estava tão ocupado que me foi impossível escrever uma opinião como deve ser. Por outro lado, também não gosto de escrever tanto tempo depois de o ter lido, pois temo deixar-me levar pela ideia geral com que fiquei e esquecer pormenores importantes para a análise do trabalho, e acabar com uma opinião quase irrelevante. No entanto senti que, no caso do Wool, seria uma injustiça maior deixar passar em claro uma das leituras mais surpreendentes de 2012.
Li o Wool Omnibus que colecciona as primeiras cinco partes da história do mundo criado por Hugh Howey. Vou evitar o mais possível descrever o que acontece porque se há coisa que está bem feita nesta obra é a manutenção do suspense e da curiosidade do leitor em relação ao mundo que sente sempre estar a ver por uma pequena janela.

Esta é uma obra pós-apocalíptica, na qual conhecemos uma pequena sociedade que vive isolada do mundo num silo gigantesco enterrado no solo. Os únicos a quem é "permitido" sair do silo são os piores criminosos, especialmente os sonhadores que acreditam que é possível experimentar e tentar de novo viver "lá fora". Os restantes vêem a pessoa que sai - tal qual execução medieval - a morrer rapidamente apesar do fato protector, sem antes, talvez estranhamente, se dedicar a limpar os sensores que permitem ao silo observar esta pequena parte do terrível mundo exterior.
O autor mostra-nos o enredo alternando sempre entre pontos de vista de uma ou outra personagem, evitando um narrador omnisciente que poderia prejudicar aquela sensação de suspense que arrepia a pele e ocupa a mente com a procura de soluções para os mistérios de Wool. O mundo é revelado com uma calma e cadência magistrais, com recurso a flashbacks e narrações paralelas extremamente bem encadeadas. Mesmo lendo o omnibus não há como escapar à noção de que estamos a ler cinco partes escritas separadamente, ainda que correspondam essencialmente a duas histórias. No entanto isto não prejudica a experiência da leitura, talvez até muito pelo contrário lhe dê uma certa originalidade na forma de contar a história, embora eu tenha ficado muito contente por ter todos os livros para ler seguidos sem parar. 
O sistema político é, como é quase obrigatório num contexto destes, baseado no controlo da informação e definição dos papéis sociais e profissionais, num distanciamento mais que físico das pessoas e na proibição não só de certas conversas mas mesmo do uso de algumas palavras ou expressões. Um autêntico "Big Brother is watching you" com a eficácia previsível numa sociedade fechada num silo, com a utilização dos vários andares para separar os vários grupos sócio profissionais. Este não se limita a estar aqui para criar a barreira porque o autor aproveita ao máximo o conceito de espaço e recursos limitados com um impacto na organização social e na vida pessoal dos indivíduos muito bem explorado e por vezes até mesmo doloroso. A sociedade de Wool é ultra-regulada, o seu valor máximo é a segurança, as pessoas sabem apenas o que é essencial para sobreviver e trabalhar e são controladas pelo medo, de forma que dá a sensação de que cada uma não parece ter outro objectivo na vida do que manter tudo a correr bem, como sempre correu, sem arriscar, sem levantar ondas, sem mudar nada. Toda esta sensação é transmitida pelo autor especialmente em algumas descrições de procedimentos corriqueiros e quase irrelevantes, especificados etapa a etapa e ao pormenor de tal forma que, se por vezes se torna algo cansativo ou exagerado, é por outro lado eficaz para colocar a mente do leitor dentro daquele mundo.
As personagens são interessantes e têm profundidade, e embora por vezes me parecessem ter reacções pouco maduras ou ponderadas, pergunto-me se isso não é mais um resultado natural da vida que tiveram (e que não tiveram) do que propriamente de alguma falha do autor. A evolução das personagens, por outro lado, está muito bem conseguida, talvez com uma só excepção que por vezes me pareceu de menor credibilidade.

Wool é, assim, um óptimo exemplo do que se pode alcançar com uma história distópica futurista pós-apocalíptica, com um mundo surpreendente mas credível e personagens interessantes com quem se consegue empatizar, que nos levam numa viagem excelente e assustadora e que nos fazem pensar no que está de facto no âmago da humanidade, no quê que sobra mesmo depois de sermos sujeitos ao desastre global e a centenas de anos de isolamento e mentira. Não há melhor ficção científica, aliás, não há melhor literatura do que aquela em que o mundo construído e as personagens que o habitam colaboram na mensagem que passam ao leitor e nunca se abafam ou se perdem um no outro. Fiquei fã desta história e mal posso esperar para ler mais do autor, algo que está prestes a acontecer dado Howey já ter começado a publicar alguns volumes de Shift, a prequela de Wool.
Por fim, fico contente por saber que o autor não só teve imenso sucesso com o livro, ao qual a editora Random House (Century) se rendeu e agora publica em papel, como vendeu os direitos à Fox para um filme que poderá vir a ser realizado por Ridley Scott.


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I decided to read Wool following a friend's suggestion and also because I was curious to read a self-published work. I must say I usually have low expectations for these books, not only for failing to be published by a house (that can be for a lot of reasons beyond the work's quality) but also because there's a load of crap e-published these days. Hugh Howey had me surprised and convinced and I had to force myself to stop reading it all night long, such was my curiosity about the plot and the world he created.
I couldn't write a proper review by the time I finished reading but although I don't like writing about a book long after I read it for fear of my opinion loosing quality and detail, I felt it was unfair not to share how much I liked this work. I'll avoid a synopsis or plot details as much as possible because one of the best things about reading Wool is the suspense felt throughout and that feeling one is looking into a new world through a tiny window. I read the omnibus version, collecting all the five parts of this story. 

Wool is a post-apocalyptic story, in which we are shown a small society living isolated from the world in an underground silo. The only ones "allowed" outside are the worst criminals, mainly the ones who dream exactly of going out and exploring the world once more. The rest of the people are left viewing the one leaving - as if it was a medieval execution - dying quickly in spite of the protective suit, though not before he has time to clean the sensors that allow the silo to see that part of the outside world.
The author alternates between some characters' point-of-view, avoiding a typical omniscient narrator that would spoil the skin-crawling mystery and the tendency the reader can't help but have to try and solve it over and over again. The world and the plot is revealed remarkably slow and steady, with some flashbacks and parallel stories without ever becoming tiresome. Even reading the omnibus one notices the five separate parts that in fact correspond to two stories, but it has no negative effect on the reading experience. If any, it felt even more interesting, though I was happy to have all the volumes to read non-stop.
The political system is, as one would expect in this setting, based on the control of information and social and professional status, a more than physical distancing between the people and the prohibition of certain conversations, expressions or words. A matter-of-fact "Big Brother is watching you" with the predictable efficacy of being applied to an enclosed society, with the silo's levels used to separate the social groups. The silo isn't only here to create a limit, the author makes the most of the concept of limited space and resources and it's impact on the organization of the community and on each one's personal life that is at times actually painful to think of. Wool's society is ultra-regulated, with it's foremost value being security and some associated predictability of people's behaviour, so that they are only allowed to know what is essential for their survival and contribution to the community and live in a conformed fear. One feels that they survive with the single purpose of surviving, doing everything just the same as always and expecting everything to keep going smoothly and unwavering. This is all conveyed by the author especially with some of his descriptions of daily unremarkable procedures, that are specified step by step and to such detail that, if sometimes almost over the top, on the other hand is awesome in placing one's mind exactly where it should be to feel Wool.
The characters are interesting, have depth, and though sometimes acting a bit too immaturely, I was left thinking if that is more due to their life (or absence of life experiences) than to some kind of failure by the author. Their development was very well executed with perhaps one less credible exception.

As it is, Wool is a great example of what one can achieve with a dystopian  futuristic work with a surprising but believable world and interesting characters with whom one can empathize and who take us on an excellent if often scary voyage and leave us thinking about what is the core of the human being, what is left after all of us have been destroyed, isolated, lied to and controlled for hundreds of years. There is no better science fictions, or actually no better literature, than that where the world-building and the characters the inhabit it cooperate in conveying the message to the reader, never overwhelming or dissolving themselves on each other. I'm a fan of this story and of the author and I can't wait to get my hands on the recently published Shift, prequel to Wool.
Lastly, I must also congratulate Hugh Howey on his accomplishment, not only for his perseverance but also for the quality of his work (now published on paper by Century - Random House Books) and for selling the rights for a film that Fox is producing and Ridley Scott might be directing.

You can visit the book's website at www.thisiswool.co.uk

2 comments:

  1. I really, really (really) wanted to like this book. I bought it based on the strength of the reviews, and on the strength of the gripping first chapter (you can get that as a free kindle dl as of the time of this review). So again, had high hopes and was priming myself up to share this awesome story with friends and all that good stuff.

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    1. But in the end you didn't? And if that's the case, care to share with me why not? I'm always curious.

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