Este é o terceiro post a comentar os Contos Digitais do DN, disponíveis gratuitamente na sua biblioteca digital.

Identifiquei-me muito com a personagem e claramente gostei muito da leitura, mas continuo com a sensação que esta história tem mais para dar, com uma leitura mais atenta que a minha. Nunca li nada de Dulce Maria Cardoso. Talvez seja altura de começar.
Conheço Pedro Mexia da sua participação no Governo Sombra e de alguns textos da revista Ler, mas Defensor do Vínculo foi o meu primeiro contacto com a sua ficção. Infelizmente, não fiquei bem impressionado. Este conto, sobre o defensor do vínculo que, num processo de pedido de anulação do casamento, tem a função de defender o casamento como instituição, explora a comparação entre o fracasso e a nulidade, no paralelo entre a verdade e a validade, ao mesmo tempo que a personagem tem uma crise de crença na sua própria função. Apesar de haver alguns pormenores engraçados e da visão ridicularizada do casamento como algo que se supõe superior à relação que representa, a prosa não é fluída, com frases longas, expressões e termos incomuns que contribuíram para alguma confusão na primeira leitura. Numa segunda tentativa o conto é melhor, ou pelo menos mais claro, mas ainda assim a prosa não me convenceu nem me deu especial prazer na leitura.
Apesar de tudo gostei da ideia que é explorada e continuo com curiosidade em ler um trabalho de Pedro Mexia noutro formato.
Nunca li nada de Fernando Alvim, embora o conheça dos meios audiovisuais. Amo-te Para Sempre parece ser uma tentativa de explorar a expectativa de um casal, um em relação ao outro, a vontade de mudar pelo outro ou a vontade de ver o outro mudado para corresponder a uma versão idealizada. Acaba recordando o leitor que, para além do problema inerente a levar estas vontades ao extremo, as vontades em si, as ideias, as opiniões, os sentimentos, tudo é efémero e é preciso ter cuidado com decisões e atitudes definitivas, sem retorno, com base neles. Não é uma simples crítica, e até há a personagem à qual o autor permite a mudança, a evolução, talvez por ter percebido que ama a pessoa e afinal não quer que ela seja vazia ao ponto de mudar completamente por vontade de outra. Não é uma ideia nova mas podia ter sido interessante, não fosse a escrita absolutamente contra-produtiva. O narrador não passa de um apresentador de um late night show, a contar a história aos bocados, interrompendo-a com os seus comentários com intenção de ter piada e parecer irreverente e talvez até gozar um pouco com quem quer parecer irreverente. Isto exagerado ao ponto de quase abafar a história e lhe remover a réstia de interesse que poderia ter.
O conto de Possidónio Cachapa - O Homem Que Existia Demais - não me disse mais do que o que se lê no título. O narrador conta alguns episódios da história de Savage Danny, um homem auto-confiante, com uma vida fora do comum e uma atitude na linha do carpe diem. Infelizmente o conto parece, ainda que bem escrito, absolutamente desnecessário. Eu até estou interessado numa história sobre um Savage Danny, mas não uma que serve somente para tentar dar contexto ao título e fica a saber a introdução. Apesar deste não me ter convencido, não está fora de questão ler outro trabalho do autor, talvez num formato diferente.

Outros posts nesta série:
Fiquei particularmente curiosa pelo conto da Dulce Maria Cardoso. O do David Machado também parece interessante, por ser dirigido a um público diferente em relação aos outros contos. Já agora, li o post do autor a dizer que lhe pediram para escrever um conto infantil para esta coleção... será que pediram a outros autores contos dentro de determinada temática/público-alvo?
ReplyDeleteTambém me passou isso pela ideia, até pondero se não será essa a justificação a falta de interesse de alguns contos.
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