Monday, 8 July 2013

The Classic Horror Stories by H.P. Lovecraft

Mais um livro que requisitei no NetGalley, este porque nunca tinha lido H.P. Lovecraft. Já tinha intenção de me dedicar às suas histórias, até porque já li obras influenciadas por elas (é quase impossível escapar-lhe) e uma colecção das mais relevantes pareceu-me uma óptima forma de o fazer. Já noutras opiniões disse que o horror não é a minha praia, mas devo dizer que Lovecraft me surpreendeu pela positiva também nisso: as suas histórias são mais ao estilo "weird" do que propriamente horror, o que as tornou mais interessantes para mim.
Esta colecção começa por uma excelente introdução por Roger Luckhurst que contextualiza o leitor sem ser demasiado reveladora quanto às histórias que se seguem e termina com mais notas explicativas. A contribuição de Luckhurst é um dos pormenores que distingue esta de outras colecções de trabalhos de Lovecraft, dando-lhe uma componente quase académica mas longe de ser aborrecida. Há uma constante intenção de ajudar o leitor a perceber o texto como ele foi escrito. E nesse sentido - outro pormenor que distingue esta colecção - houve uma tentativa de reproduzir a obra o mais fielmente possível, tentando eliminar as alterações que foram feitas pelos diferentes editores que as publicaram inicialmente.
O livro inclui as seguintes histórias: The Horror at Red Hook, The Call of Cthulhu, The Colour out of Space, The Dunwich Horror, The Whisperer in Darkness, At the Mountains of Madness, The Dreams in the Witch House, The Shadow over Innsmouth e The Shadow out of Time. Há ainda um excerto do seu ensaio sobre o horror na literatura, Supernatural Horror in Literature.
Se a nível de interesse informativo e cultural, este foi dos livros mais importantes que li nos últimos tempos, a nível das histórias a minha opinião já não é tão homogénea. Por um lado, reconheço que Lovecraft é provavelmente o autor mais eficaz a criar um ambiente de estranheza e uma sensação de intrusão e imprevisibilidade que já li. Por outro lado, o exagero de adjectivos e a sua repetição - em especial de história para história - tornam-se frequentemente cansativos e prejudicam a leitura. A meu ver, o estilo funciona melhor em textos curtos e provavelmente lidos isoladamente, tal como foram publicados. Posto isto, percebe-se porque é que o que menos gostei foi At the Mountains of Madness, que embora seja dos seus trabalhos mais conhecidos é igualmente dos maiores e acabou por me aborrecer a meio da leitura.
H.P. Lovecraft concentra-se num tipo de medo diferente do habitual nas histórias mais tradicionais - de pendor religioso - ou mesmo nas actuais, que se concentram na sensação de encurralamento e de inimigos que se dissimulam no meio de nós. O medo das histórias de Lovecraft não se associa a nenhum castigo, a nenhuma culpa nem necessariamente a nada de humano. Vem do exterior, de fora da Terra, de fora da nossa "dimensão" até fora da nossa compreensão. Os seres que constituem o terror da obra de Lovecraft têm uma descrição quase inacreditável, tal é a estranheza do seu organismo. Há uma associação destes seres (com os quais Lovecraft criou toda uma estrutura interrelacionada que originou o que se chama mais tarde o Cthulhu Mythos) com cultos ou bruxaria, numa tentativa de aumentar a plausibilidade da história. As criaturas têm atitudes incompreensíveis, vivem ao longo de eras o que lhes dá uma visão distinta da sua própria existência e têm capacidades muito para além das nossas. O que é comum a todas as suas aparições é a sensação de estranheza da personagem narradora, como se o seu mundo estivesse a ser invadido por algo que não tem capacidade de entender e que, talvez por isso mesmo, o aterroriza imediatamente. Lovecraft transmite, mais do que medo, uma certa insanidade, através de um misto de dúvida e expectativa associadas a uma informação propositadamente pouco focada e sobre-adjectivada que deixa o leitor próximo da náusea.
Estas são histórias que presumem ultrapassados os medos medievais do moralismo religioso, da culpa própria, dos demónios que seduzem ou castigam, dos fiéis salvos e infiéis condenados e por isso se dedicam a explorar o medo de humanos que começam a questionar-se sobre a vida noutros planetas (e nas partes pouco exploradas do nosso), sobre a possibilidade de outras dimensões e da sua conexão com a nossa, sobre viagem no tempo, e de como podem haver outras criaturas com capacidades semelhantes ou superiores às nossas e intenções ininteligíveis que se cruzem connosco das formas mais imprevisíveis. Há, por outro lado, uma notória preocupação com a pureza racial e cultural que revela, para olhares atentos, o preconceito de que Lovecraft era abertamente apoiante e que pode diminuir o prazer da leitura.
Assim, recomendo esta colecção a quem ainda não tenha lido H.P. Lovecraft e tenha algum interesse em ficção especulativa e horror ou weird em especial, mas também a quem já tenha lido alguma história isolada ou traduzida e queira ler os trabalhos originais. Será também de especial utilidade a quem quiser conhecer o contexto do autor e da publicação de histórias cuja influência permeia muito do que se escreveu e escreve ainda hoje e não só na literatura de horror.


"Ph'nglui mglw'nafh Cthulhu R'lyeh wgah'nagl fhtagn"

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Another book from NetGalley, this one because I had never read H.P. Lovecraft. I had thought about it, of course, after reading works influenced by him (it's almost impossible not to) and a collection of his most relevant stories seemed like a great way to finally do it. I've previously mentioned here that I'm not a great fan of horror literature, but I must say that Lovecraft surprised me with stories more close to what we call weird than actual horror, which made this that much more interesting to me.
This collection starts with an excellent introduction by Roger Luckhurst that gives the reader some contextual information without spoiling too much and ends with some more explanatory notes. Luckhurst's contribution in one of the details that distinguish this from other Lovecraftian collections, giving it an almost academical component without ever being boring or over-thought. There is a real intention to help the reader understand the text as it was written. Towards that - another distinguishing detail - the works were reproduced as faithfully to the original writing as possible without the alterations made by the different editors that published them in the first place.
The book collects the following stories: The Horror at Red Hook, The Call of Cthulhu, The Colour out of Space, The Dunwich Horror, The Whisperer in Darkness, At the Mountains of Madness, The Dreams in the Witch House, The Shadow over Innsmouth and The Shadow out of Time.  The is also an excerpt from his essay, Supernatural Horror in Literature.
If when it comes to cultural interest, this was one of the most important books I've read recently, my thoughts on the stories themselves aren't always as positive. On on hand, I recognize that Lovecraft is, to my knowledge, probably the most effective author generating an ambience of weirdness and feelings of intrusion and unpredictability. On the other hand, the amount of adjectives and their repetition - specially in different stories - become overwhelming and tiresome. I feel his style works best in short stories and probably read separately, as they were published. Given all I've just said, it's easy to see why the one I enjoyed less was At the Mountains of Madness, which in spite of being one of his best known works is also one of the biggest and ended up boring me.
H.P.Lovecraft focuses on a kind of fear that differs from the usual in the more traditional, religiously biased stories or in the contemporary ones, that focus on feelings of entrapment and enemies hidden in plain sight. The fear in Lovecraft isn't associated with any punishment or guilt or even anything necessarily human. It comes from the outside, from space, from other dimensions, it's external to our comprehension. The terrifying beings in his works have a near incredible description, such is the weirdness of their organisms. There is an association between these creatures (with whom he created a whole interconnecting structure that came to be called the Cthulhu Mythos) and cults or witchcraft contributing to the plausibility of the stories. The creatures have incomprehensible behaviour, live through ages which gives them a different concept of existence and have abilities far beyond ours. Common to every one of their appearances is the feeling of weirdness they cause to the narrator, as if his world was being invaded by something he can't understand and that, perhaps precisely because of that, terrifies him immediately. Lovecraft transmits, more that fear, this feeling of near insanity, through a mix of doubt and expectation associated with blurred and over-adjectivized information that gets the reader almost to nausea.
These are stories that assume we've left behind those fears associated with religious morality, with guilt, seducing or punishing devils, saved pious or doomed non-believers and because of that are dedicated to the exploration of the fears of those who question alien life, outer-dimensional life, time travel or who consider the possibility of there being other creatures with abilities similar or superior to ours and whose intentions are unintelligible even when we come across them. There is, on the other hand, an obvious preoccupation with racial and cultural purity which shows, to those who are alert, a prejudice that Lovecraft was openly supportive of - something that can spoil the experience of reading his work.
As it is, I recommend this collection to those who haven't read H.P. Lovecraft and have any interest in speculative fiction and horror or weird in particular, but also to those who have read one or other isolated work and wishes to read the original and more memorable ones. It will also be useful to those who wish to understand the author's context, a man who came to influence so much of what has been written ever since, and not just in horror literature.


"Yog-Sothoth knows the gate. Yog-Sothoth is the gate. Yog-Sothoth is the key and guardian of the gate. Past, present, future, all are one in Yog-Sothoth. He knows where the Old Ones broke through of old, and where They shall break through again. He knows where They have trod earth's fields, and where They still tread them, and why no one can behold Them as They tread."

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