A minha decisão de ler Tale of Sand foi algo instintiva. Li um ou dois textos sobre o livro na altura em que foi publicado, vi-o na loja de BD habitual - Mundo Fantasma - e comprei. Depois passou cerca de um ano sem eu lhe pegar. Entretanto soube que ganhou o Eisner Award, o que poderia ter motivado a minha leitura, mas a verdade é que só agora cheguei a ele. Foi a minha primeira leitura de 2013, um começo definitivamente estranho.
Tale of Sand é uma obra existencialista, de exploração do ser humano pela exteriorização do seu íntimo através de uma história surreal, absurda que por motivos indefinidos é imposta a um protagonista sem grande introdução. Dito isto, é uma obra muito confusa. Não sei se por ser um guião (encontrado recentemente, nunca convertido em filme) transformado em banda-desenhada, se o guião em si já implicava todo este absurdo incompreensível, o que faz algum sentido tratando-se dos autores por trás do The Muppet Show. Para os fãs e conhecedores da obra de Jim Henson e Jerry Juhl, que para além dos Marretas inclui igualmente a Rua Sésamo, há aqui um bónus, a utilização de várias ideias que foram mais tarde aproveitadas noutros trabalhos mundialmente famosos.
Seguimos um homem numa travessia do deserto numa aparente corrida ou fuga / perseguição da qual desconhece condições ou regras e para a qual tem apenas um aparente mapa do percurso mas que não é de fiar. No deserto acontecem-lhe as coisas mais inesperadas possível, desde passar por um homem a correr que carrega um cubo de gelo gigante o qual vai derretendo até ao momento em que, chegado ao tamanho normal, é colocado num cocktail de uma mulher a apanhar sol à beira de uma piscina com um tubarão, até encontrar um interruptor dia/noite numa pedra e ser perseguido por uma equipa de futebol americano, tudo isto enquanto é perseguido por um inimigo misterioso com uma pala num olho.
A arte de Ramón Pérez, por outro lado, não deixa quaisquer dúvidas. Este livro tem da melhor arte que já vi em banda-desenhada, em especial considerando que é a ilustração que conta a história, com muito pouca ajuda do texto. O desenho, o arranjo gráfico, a cor, tudo aqui está próximo da perfeição e merece sem dúvida as nomeações e prémio que ganhou.
Se eu percebi o livro, a tal análise absurdista da existência do indivíduo? Não, embora a revelação final mostre bem o objectivo da história. Mas fiquei com vontade de o reler, noutro momento, com outra atenção. Porque definitivamente vale a pena.
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I first decided to buy Tale of Sand out of instinct, having read a couple of news about it being published and taking a brief look at it at my usual comics store. Later I heard it won the Eisner Award, but still I kept postponing it until now. It became my first read of 2013, and an odd start at that.
Tale of Sand is existentialist an exploration of the human being through the external materialization of himself in an absurd and surreal story imposed to an unknown individual for unknown reasons. Having said that, it is a very confusing work of art. I don't know if that stems from it being an adaptation of a lost script for a film that never was or if the script itself already defined all that incomprehensible plot. Probably the latter, seeing that Jim Henson and Jerry Juhl were the creators of The Muppet Show and Sesame Street. For their fans, there's a bonus in this book, considering all the ideas that are both present here and used later on their work.
One follows a man traversing the desert (what's more metaphoric for a depressive introspection than that?) in an apparent race / escape of which he knows no rules or conditions apart from a map that he's told is not to be trusted. In the desert, the most unpredictable stuff happen to him, from a man carrying a giant ice cube that melts to the perfect size right when he puts it on a woman's drink (one who is sunbathing by a pool with a shark), to finding a day/night switch on a rock and being followed by a football team, all this while being persecuted by a mysterious enemy with an eye-patch.
Ramón Pérez's art, on the other hand, convinced me right away. This book has some of the best illustration I've seen in sequential art, specially considering it is the image that tells the story with little occasional help from text. The drawing, the design, the colour, everything here is near perfection and deserves all the nominations and award it got.
Did I understand that absurdist analysis of the human or the man's existence? Not at all, though the final revelation does show the purpose of the story more clearly. But I do mean to read it again, on a more appropriate moment, when I can dedicate more time and pay much more attention to it. Because it's definitely worthwhile.