Sunday, 23 February 2014

Jorge Moreira da Silva e a desvalorização dos discursos eleitorais

Em entrevista à SIC Notícias, Jorge Moreira da Silva, actual Ministro do Ambiente e Vice-Presidente do PSD, diz que neste momento os portugueses "não querem saber quem vai vencer as eleições europeias, ou as legislativas, ou presidenciais; querem saber como é que o país vai passar de uma fase de resgate para uma fase de desenvolvimento, e isso é o essencial. Eu lamento muito, mas eu não quero contribuir com um segundo que seja para aquilo que me parece não ser o essencial. O essencial é crescer, gerar emprego, criar condições para que o país tire partido dos talentos, dos recursos, das infraestruturas, da sua história, da sua língua, e essa é a mensagem de esperança que sai deste congresso."

Aqui está um dos grandes problemas da politica partidária actual, que explica em parte a descrença das pessoas em relação ao nosso sistema democrático representativo. Ora se até este senhor, com responsabilidade no governo mas também a nível partidário, diz que os portugueses, porque preocupados com o futuro do país, não estão interessados em saber quem vai vencer (quero crer que o senhor queria dizer quem se vai candidatar) os três actos eleitorais que se seguem... O que estas frases revelam, ditas quiçá num momento de pouco cuidado e atenção, é uma de duas coisas (ou ambas):
 - que até mesmo na liderança do PSD há um reconhecimento e uma aceitação de que o discurso eleitoral e a imagem da pessoa enquanto candidato têm pouco a ver com as atitudes que são tomadas depois da eleição ganha;
 - que não interessa ao PSD e ao governo que os portugueses atentem nas discussões pré-eleitorais, porque é mais fácil lidar com eles por entre os pedidos de consenso e as despedidas da troika do que abrir caminho a escrutínio bem organizado e publicitado (como poderia ocorrer na campanha).
Depois, dizer que o que lhes interessa é gerar emprego (vejam-se os últimos números do desemprego) e que o país tire partido dos talentos (que mandam emigrar) e das infraestruturas (que privatizam ou param de desenvolver) é de uma hipocrisia dolorosa.

Os portugueses, genuinamente preocupados com o estado do seu país e do seu povo, não podem estar interessados na discussão política do futuro de Portugal e da Europa inerente às eleições europeias. Não podem igualmente querer saber quais as suas opções nas próximas eleições presidenciais, não vá isso aumentar a atenção prestada ao ridículo da nossa presidência da república. Não podem ainda querer saber de nada sobre legislativas, essas eleições absolutamente secundárias para tudo o que passam no seu dia a dia, ano após ano.
O que esta gente tem na cabeça é claro, fala por si e não augura nada de bom para o nosso futuro.

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