Descobri Montaro Caine no NetGalley e fiz a requisição porque fiquei curioso, não só por ser do Sidney Poitier, mas também pela descrição. O livro é, no fundo, a vida do Montaro Caine, um CEO de uma empresa mineira e de engenharia química, no início do enredo aparentemente prestes a perder o controlo da empresa. À medida que a história é contada, vamos percebendo que Montaro é uma pessoa atípica, com uma infância complicada e que vê o avô não só como uma figura paternal mas como uma espécie de guia. Simultaneamente desenvolve-se o enredo aparentemente paralelo onde uma criança nasce com uma moeda na mão. É esta história que nos mostra que estamos perante ficção especulativa e que me foi mantendo o interesse na leitura. Ao longo do livro Montaro vê-se perante uma situação complicada, que envolve não só esta moeda com materiais desconhecidos e aparecimento no mínimo misterioso, como coleccionadores milionários, burlões, família e até pessoas do seu próprio passado. Claro que no final todas as pontas soltas misteriosas se ligam numa revelação que tem como centro, mas não como único foco, o próprio Montaro Caine.
A personagem principal está bem desenvolvida, as suas motivações e decisões, as interacções com a família, com a empresa na situação habitual, com empregados, com desconhecidos, as suas imperfeições e o seu carácter, tudo parece fazer sentido e raramente é forçado para dar jeito ao enredo. O resto das personagens raramente são tão bem desenvolvidas e são essencialmente o suporte para a história, embora haja alguns bons momentos.
Infelizmente acaba aqui aquilo que o livro teve de interessante para mim. A questão da moeda acabou por se revelar de certa forma previsível, com uma aproximação à ficção científica pouco aprofundada ou original. O final do enredo foi prejudicado essencialmente por querer dar o palco ao grande defeito do livro, a mensagem paternalista de auto-confiança, esperança, trabalho e união que o autor quis passar à força. Não que a mensagem seja má per se, mas a forma como foi sendo "martelada" ao longo de toda a história torna a leitura por vezes irritante. As conversas com o avô são um exemplo disso. Montaro vem com dúvidas práticas e pragmáticas, o avô limita-se a dizer-lhe que confie em si (de várias maneiras diferentes) e o neto quase magicamente acaba por arranjar soluções. A leitura aproxima-se em certos momentos da de livros de Paulo Coelho, ou do que suponho seja a sensação de ler O Segredo e é tanto melhor quanto mais se afasta disso.
Há nesta obra uma ideia positiva, que é a de que perante oportunidades de crescimento e progresso (aqui representadas pela moeda, pelo conhecimento, pela ciência) devemos tentar unirmo-nos e trabalhar em conjunto para esse fim. No entanto o facto do autor pregar estas ideias em vez de as demonstrar e de as associar a um certo efeito mágico da motivação e da esperança estraga o que poderia ser, conceptualmente, uma história interessante. Fica assim uma leitura aceitável que agradará a quem gostar de ver explorada a vertente do negócio, do bluff, da forma como os interesses de uns e outros vão sendo jogados por uns e outros, cada um centrado na sua vontade e com um protagonista bem conseguido, mas que ficará à quem das expectativas de leitores mais experimentados, especialmente na ficção científica, e que desaconselho sem reservas a quem não suporta narradores-pregadores.
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I found Montaro Caine at NetGalley and decided to request it not only because of the author but because the description enticed me. The book is, bottom-line, the story of Montaro Caine's life, the CEO of a mining-chemistry corporation apparently on the verge of loosing its control. As the tale is told, we start to understand Montaro as an atypical individual, with a complicated youth and a grandfather who he sees not only as a father-figure but as a true guide. Simultaneously, the apparently parallel plot starts to be developed, as we read about a child who is born with a coin in her hand. This is what shows we are about to read some sort of speculative fiction and also what made me curious enough to keep reading. Eventually, as Montaro and this coin with impossible materials become more connected, he is lead into some complicated situations all at once, be it negotiations with millionaire collectors, scams and troubles with his family and even the return of people and stories from his own past. Of course all these loose ends come together at an ending that is centred around Montaro, but not at all solely focused on him.
Montaro is a well developed character, with fleshed out motives and decisions, character and imperfections, and interesting interactions with the company, his employees, his family, where he makes sense without seeming too pushed into stuff just for the sake of the plot.
Unfortunately this is all that's good with this book. The issue with the mysterious coin ends up being quite predictable in a very superficial and far from original approach to science fiction. The ending was ruined because it gave centre stage to the worst of this novel, the preaching. The author is quite paternalistic in the way he conveys his message of self-confidence, hope, union and effort, and at times gets close to what Paulo Coelho does on his books (and also, I imagine, to what the Secret has to say). The book is at its best when the author escapes from those moments. One example of what annoyed me is his interaction with his grandfather. Montaro comes with a very objective doubt, a practical issue that he can't find the solution to, speaks with his grandfather who, in a lot of different ways, usually tells him to trust himself and eventually he comes up with a solution. Once this would be fine, everyone needs a confidence boost once in a while, but for this to be the means to solve problems seems to me quite stupid.
There is a very positive message in this novel, one that tells us that we should unite and work together towards our common progress, here conveyed by the coin and science as a means to the betterment of humanity. However, the fact that the author preaches this instead of showing and associates the message with the magical effect of hope and motivation spoils what could have been, at least conceptually, an interesting story. As it is, this is a passable read with a good protagonist which will please those who enjoy the negotiation, bluff and overall playing and taking advantage of each characters' interests but will be below the expectations of more experienced readers - specially in science fiction - and one that I thoroughly do not recommend for people who can't stand preaching narrators.
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