O mapa de vagas para acesso à especialidade foi publicado pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) no final da tarde de 15 de Dezembro de 2014. A escolha inicia-se às 14h30 de 16-12-2014, nem 24 horas depois, e está prevista a sua conclusão em quatro dias. Isto é um processo para escolha sequencial de vagas por parte de 1548 candidatos, por ordem de seriação e distribuidos pelas cinco Administrações Regionais de Saúde (ARS). Portanto as faltas de respeito e consideração pelos médicos nesta situação são múltiplas e adicionam-se a um processo com problemas constantes de há muito reconhecidos mas nunca tão mal conseguido. Lembro que esta escolha é dupla e com impacto determinante na vida de um indivíduo e potencialmente da sua família, dado que corresponde a uma escolha não só de um local de trabalho para os próximos 4 a 6 anos, pelo menos, como de uma especialidade, ou seja, da profissão propriamente dita.
É inaceitável que não haja tempo para analisar o mapa de vagas e tomar decisões ponderadas e partilhadas com a sua família. É inaceitável que não haja tempo para o interno se informar sobre os serviços e os locais que poderão vir a ser a sua vida nos próximos anos. É incompreensível que um mapa destes - que relembro, é uma tarefa regular anual destas estruturas - seja concluido e apresentado aos candidatos menos de um dia antes de estes terem que fazer uma escolha destas. Para cúmulo, a ACSS ainda determina como prazo para o início de funções a data de 02 de Janeiro de 2015, ou seja, alguém que está a trabalhar como interno de ano comum em trás-os-montes pode descobrir dia 18 de dezembro que a partir de 02 de Janeiro está a trabalhar em S. Miguel. Como vai ajustar toda a sua vida (e potencialmente dos seus) em menos de duas semanas? E escuso-me a fazer considerações em relação ao Natal e Passagem de Ano que são das celebrações mais relevantes para a cultura portuguesa, acho que a referência fala por si.
Por fim, não consigo esquecer que até há dias as USF aqui ainda não sabiam se iam ter internos em 2015 ou não. Falava-se na necessidade de diminuir o número de vagas de MGF por falta de capacidade formativa do HSJ onde os internos estagiam em vários serviços. Falava-se em alternativa de uma necessária reestruturação do internato a esse nível, para permitir a manutenção do número de vagas de internato na zona. Agora descubro que afinal já há confirmação de vagas para várias unidades daqui, temo que à revelia das estruturas locais ou à custa da qualidade da formação. Aguardo por mais informação quanto a isto, bem como quanto ao número de vagas de MGF que parece ter aumentado imenso novamente, o que me faz temer ainda mais pela qualidade da formação médica.
Este governo e as estruturas centrais que dependem dele já têm mostrado incompetência e falta de respeito pelos portugueses em demasiadas situações (lembremo-nos dos professores, por exemplo). Esta ilustra, para quem está de fora e ainda não tinha percebido, que também no Ministério da Saúde a máxima passa pelo país estar melhor (em alguns belos números) mesmo que as pessoas estejam pior.
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