Saturday 12 April 2014

Governação a dois tempos


É inacreditável como ainda não aprendemos. Os meios de comunicação social continuam a colaborar com o governo na sua estratégia de modular a reacção dos portugueses às medidas que tomam.

Pela enésima vez, tivemos comentadores profissionais e "fugas" de informação que previam cortes de um determinado número de milhares ou milhões ou milhares de milhões de euros e depois o governo avisa que o corte vai ser inferior. Claro, a comunicação social abre os telejornais e enche as primeiras páginas com a notícia: "afinal os cortes não vão ser tão maus". E assim, gerindo as expectativas, o governo consegue sempre dar um ar de benevolente a cada momento de "ajustamento" orçamental, sejam lá quem forem os prejudicados desta feita. Só nos falta agora a última fase, os comentadores habituais terminarão o assunto mostrando-se contentes por estar enganados, comentando como o esforço hercúleo do governo ou os efeitos da confiança dos mercados e dos parceiros e dos credores estão a permitir um processo de ajustamento muito "menos mau" do que poderia ter sido. Daqui a pouco começarão novamente a trazer informações privilegiadas sobre uma outra medida terrível, uma nova obrigação de austeridade, um valor astronómico assustador de cortes. Talvez desta vez esperem para depois das eleições, a ver se chegamos ao acto eleitoral com a temática do possível aumento do salário mínimo, para ver se os partidos da coligação perdem menos votos.

Entretanto, o país continua a estar melhor (medíocre) apesar das pessoas estarem pior (miseráveis). É uma tristeza enorme pensar que estamos prestes a comemorar o aniversário da revolução que nos trouxe à democracia com o governo mais orwelliano que tivemos desde então.

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