Como aqueles que me conhecem e os que seguem este blog ou a minha presença nas redes sociais sabem, a minha preocupação política tem vindo em constante crescendo, tanto ao nível do que sigo (na TV, na rádio, na net) como ao nível do que comento. Apesar disso, até recentemente, nunca senti a proximidade necessária a um partido específico para me tornar seu militante. Esta situação mudou com o aparecimento do LIVRE. São três as principais razões que causam esta mudança e que decidi partilhar com quem lê este espaço, não só porque gosto de ser claro quando apoio um projecto, como porque talvez se tornem motivos para vocês mesmos irem conhecê-lo.
Aquilo que primeiro me chamou à atenção no LIVRE foi a sua organização e política interna. Um partido não abraça verdadeiramente a transparência e a colaboração com a sociedade civil se o seu próprio funcionamento for fechado, obtuso ou feito em bastidores. O LIVRE tornou-se diferente logo à partida, ao tornar públicas as suas reuniões e processos de deliberação política, mas também ao permitir a participação na sua elaboração de apoiantes. Sendo assim, aqueles que se identifiquem com o partido, ainda que não membros, podem participar em tudo excepto na votação daquilo que diz respeito aos regulamentos internos do LIVRE. Pude sentir o efeito extraordinário deste aparente detalhe no congresso fundador, onde gente não militante, como eu próprio, puderam ajudar a definir politicamente o caminho do partido, de certa forma fazendo-o e, por isso mesmo, criando uma estrutura na qual pudessem votar mais tarde. O outro pilar desta questão é a existência de primárias abertas. Entretanto já realizadas, é para mim incomparavelmente melhor ver uma lista que foi construída de raiz por membros, apoiantes e independentes que se candidataram e foram submetidos a sufrágio, do que vê-la aparecer criada pela direcção do partido. Isto não só porque é um passo para afastar a política do controlo dos aparelhos partidários e dos interesses e troca de favores, mas também porque se torna mais transparente e mais ao gosto não do líder ou da direcção mas daqueles que de facto pretendem mais tarde elege-los para seus representantes.
Por outro lado tenho obrigatoriamente que falar de ideologia política. Só um partido progressista e de esquerda me poderia convencer, a minha visão do que quero para a civilização humana não se coaduna com conservadorismos nem com a direita. Aquilo que o LIVRE me traz, para além de se localizar "no meio da esquerda" onde frequentemente eu próprio me sinto, é uma atitude diferente de base. Assume-se como ecologista e europeísta, tanto como progressista e esquerdista. Isto é importante para mim porque permite ter confiança nos pilares base do partido, saber que a ideia de sociedade que estes pilares implicam se sobrepõe bastante à a minha. Por um lado, porque não me interessa a ecologia como principio único do partido, interessa-me, como aliás se discutiu no congresso fundador, que todas as medidas, sejam em que área for, passem por uma consideração de efeito a nível ambiental - não faz sentido deixar a ecologia como um nicho onde se vai comprar apoios com meia-dúzia de medidas que "lhes interessem", a ecologia tem que ser um princípio geral. O europeísmo aqui é importante a dois níveis: a vontade de progredir na União Europeia e a vontade de a mudar. A vontade de aumentar a integração europeia coaduna-se com a minha opinião de que só se poderá ter uma política socialista de longo prazo quando ela for obtida no máximo de locais possível. Não vejo futuro no isolamento nem em rodearmo-nos de uma Europa capitalista e neoliberal. A vontade de mudar a UE é uma necessidade que é hoje óbvia pelo menos para os países atingidos pelos troikismos recentes. Precisamos de uma UE mais democrática, mais dependente do voto do cidadão e com responsabilização perante este, de forma a fugirmos à tendência para criar uma simples máquina burocrática que dê seguimento aos decretos dos países mais poderosos da união, como tem ocorrido até agora e em especial agora.
O terceiro ponto que me atrai no LIVRE é a sua vontade de convergir. Estou farto de uma esquerda partida em bocados que lutam tanto para ser a "verdadeira esquerda" ou a "esquerda realista" que se deixam constantemente rodear por uma direita que tem tido, admita-se, mais vontade de se entender ou pelo menos menos pruridos em deixar cair algumas das suas ideias para poder governar. Se a esquerda portuguesa não mudar, vai continuar a defender as coisas certas mas sempre na oposição, lutando tanto com a direita como entre os seus vários sub-grupos. Podemos aqui, claro, ponderar onde recai a responsabilidade deste sectarismo. Na história? Será ela tão intransponível? No PS, que com medo de perder a sua aparência de realismo, de "arco da governabilidade", de "centrão", raramente se entende à esquerda (às vezes nem com a esquerda interna)? No PCP e no BE, que vivem no parlamento a definir-se como a "verdadeira esquerda" por oposição ao PS e prontamente o empurram para esse mesmo "centrão" do qual o acusam diariamente? Será que se deve a uma tão forte ligação à sua ideologia, que nenhum grupo está capaz de ceder numa coisa que seja para conseguir arrastar a governação portuguesa para a esquerda, mesmo que não seja exactamente para a esquerda que sonham? O LIVRE, por estar no meio da esquerda mas essencialmente por assumir esse princípio de querer procurar entendimentos com outros partidos, pode ser uma ponte ou até uma força em si mesmo para gerar este governo. Seja em coligação com o PS, que tem tido a maioria dos votos da ala esquerda do parlamento, seja com o BE, ou até mesmo com ambos, há aqui o potencial de ultrapassar diferenças e governar Portugal, talvez não exactamente de acordo com os princípios de cada partido, mas decerto muito mais próximos disso do que em qualquer legislatura anterior.
Foi isto que me chamou ao LIVRE, e foi por isto que me fiz apoiante. Mais tarde, foi por isto, pelo encorajamento de alguns membros e por achar que tinha algo a oferecer que me candidatei às primárias para as eleições europeias. Olhando para trás, é com orgulho que digo que participei nas primeiras primárias abertas da nossa democracia e que trouxe ideias próprias para actuação no Parlamento Europeu, minhas, diferentes das de outros candidatos mas de acordo, claramente, com os princípios gerais e o programa aprovado pelo partido para as europeias. Perdi as eleições, no sentido em que não faço parte da lista, mas ganhei, não só pela participação mas também porque algumas das pessoas de que apoiei durante o processo das primárias acabaram eleitas e até mesmo no top 6. O resultado das primárias está à vista, os seis mais votados incluem um eurodeputado e gente que nunca teve cargos políticos, membros e independentes, gente que vive cá e gente que emigrou, candidatos que se revêem nos verdes europeus e candidatos que se revêem nos socialistas europeus. Se antes queria votar por gostar do partido e do seu programa, agora quero votar LIVRE também por conhecer os seus candidatos e ter ajudado a fazer deles candidatos, por querer algumas destas pessoas a representar Portugal no PE.
Resta-me, por fim, abordar uma última questão. Se o partido me convenceu de tal forma, porque sou apenas apoiante? Porque não me fiz membro oficial do LIVRE? Inicialmente, pela minha reticência em ser "militante" de uma estrutura que não depende do meu controlo mas que ficará associada a mim eternamente. Talvez também por alguma reticência em ser considerado "político". Talvez ainda por o projecto ser tão recente que não é fácil entregar-me a ele de tal forma.
Mas agora? Porque ainda não sou membro do LIVRE? Porque estou à espera da oficialização. Estou a tratar disso, porque, ultrapassadas as reticências acima, quero não só ajudar construir o LIVRE como obrigar-me a ser responsável por ele, na medida em que qualquer membro o é.
Convido-vos a visitar o
LIVRE, a conhecer os documentos, os princípios, a organização, o programa político para as europeias. E, se concordarem, juntem-se a mim.