Não concordando com tudo o que Daniel Oliveira dá a entender
nesta crónica, a sua leitura não deixa de ter interesse para a análise do discurso político actual. Por um lado, não se pode comparar a atitude do PS perante a vinda da troika e seu memorando com a do PSD e CDS. Não nos podemos esquecer que o governo socialista tentou evitar este processo (bem ou mal, é outra questão) e foi a oposição dos outros dois, aliados aos restantes partidos da esquerda parlamentar, que levou ao isolamento do dito governo, ao falhanço da estratégia dos PEC (se ia servir para alguma coisa ou não é, mais uma vez, outra questão) que nos obrigou ao pedido de ajuda externa. Mais, foram o PSD e o CDS (aqui já diametralmente opostos à esquerda novamente) que celebraram a vinda da troika e o memorando que seria "o seu programa de governo" e que, uma vez lá chegados, se dispuseram até a "ir mais longe do que o memorando". Por outro lado, tem razão o Daniel Oliveira quando se queixa das "costas-largas" do memorando. Desde que ele passou a ser mau (falei disto
noutro post) o governo tenta atirar para a responsabilidade do memorando (que agora diz que é do PS) as medidas mais impopulares. Se há coisa que se evita nesta governação é informar os governados com a honestidade que lhes é devida.
Por falar em honestidade, trago mais um caso em que tem faltado muita. As referências ao Rui Tavares, desde que saiu do BE mas principalmente desde que se dispôs a ajudar a criar um novo partido de esquerda, o LIVRE, têm sido sempre desde exageradas a totalmente falsas. É óbvia a tentativa de descredibilizar aquela que é a pessoa mais conhecida do novo partido, no sentido de impedir a sua implantação, vinda do típico medo do "roubo de votos" à esquerda (que interessa se o partido viria a representar melhor as ideias de alguns portugueses, votantes ou abstencionistas até então). O Rui Tavares responde
neste artigo no Jornal i a várias dessas criticas, nomeadamente quanto à sua actividade no Parlamento Europeu. Vale a pena ler com atenção, para evitar "ser levado" pelas tretas de gente com intenções tudo menos francas. De resto, quanto ao LIVRE, do qual o actual porta-voz nem sequer é o Rui Tavares, faça-se uma visita ao
site oficial, até porque as várias políticas e metodologias que defende estão lá bem explicitas e é nisso que se deve basear a nossa opinião de um partido, até que nos apresente candidatos específicos a cada eleição.
(disclaimer: eu sou apoiante do LIVRE, ainda não militante nem pertencente a nenhuma organização interna do partido)
Segue-se uma
publicação no site do Sindicato Independente dos Médicos, que é apenas uma pequena amostra do que se tem feito ao dia a dia dos médicos, neste caso dos médicos de família, à custa de novos programas informáticos e novos processos de controlo da actividade de prescrição. Desta feita, a referência é à avaliação das prescrições médicas, sendo que, em vez de se avaliar aquilo que cada médico efectivamente leva a gastar a nível de comparticipação de medicamentos e exames auxiliares, passa-se a avaliar aquilo que é prescrito, mesmo que não seja comprado ou feito pelo utente. Ora isto vai sobrestimar os gastos associados à actividade de cada médico (pelos erros informáticos, pelas receitas que os utentes não levantam por esquecimento da validade ou por falta de dinheiro, etc.) sem qualquer benefício para o SNS. Aliás, só traz prejuízo por ser um progresso na cruzada desta governação que pretende culpabilizar o médico, como se ele fosse um ladrão do dinheiro público por prescrever os medicamentos e exames que são parte integrante da actividade clínica, dos cuidados de saúde que a população pretende e para os quais paga os seus impostos. Se isto continua assim, qualquer dia o médico tem que escolher a qual doente trata o colesterol, a qual trata a diabetes, a qual trata a hipertensão, sob pena de, tratando tudo como deve ser, ultrapassar os limites de "gastos" que lhe são impostos. Ou então, numa bela cena de hipocrisia histórica, passar a mandar os doentes pedir as prescrições num médico privado, ao contrário do que se fez em tempos.
Por fim,
uma leitura essencial sobre a forma como os regimes democráticos europeus lidam com regiões ou povos com tendências separatistas, com reflexões em relação à forma como se decide da sua independência e da sua pertença ou adesão à União Europeia.
Tinha guardado este texto do Filipe Henriques para o partilhar há alguns dias, mas de repente todo este assunto se tornou ainda mais relevante pela emergência de um novo local onde se vai discutir isto, a Crimeia na Ucrânia, onde, a somar-se à autonomia da região e à quantidade de população de origem russa, temos ainda os interesses estratégicos da própria Rússia, a provável ocupação militar que já está a decorrer, a confusão ao nível da governação central ucraniana, as pressões da UE e dos EUA e a proximidade a outros territórios algo complicados. Já não era simples lidar com os separatistas dentro dos países com democracias relativamente estáveis e dentro da união, vejamos como se porta agora como força geopolítica à escala mundial.