Thursday 29 November 2012

Killing Them Softly by Andrew Dominik

Baseado no livro de George V. Higgins, Killing Them Softly (Matando-os Suavemente - sim, a tradução é mesmo esta) faz uma alegoria da crise através da observação do colapso de uma economia de poker ilegal. Inicialmente segue as duas personagens ingénuas, diria mesmo burras, a quem é proposto o roubo que dá o mote ao filme. Scoot McNairy e Ben Mendelsohn estiveram muito bem, sempre estranhos e engraçados. A sua conversa enquanto um deles está sob efeito de heroína arrancou-me gargalhadas. O ponto de vista muda entretanto para Jackie, contratado para investigar o roubo e lidar com os culpados. Brad Pitt esteve bem como é costume, muito embora a sua personagem esteja frequentemente na linha entre o misterioso e o simplesmente absurdo. Ainda quando aos actores, de destacar James Gandolfini cujo Mickey, um assassino a soldo peculiar, serviu bem de comic relief.
As cenas de pancada e homicídio são para mim das melhores do filme: brutais, mas tanto e não mais que a realidade.
Ao longo do desenvolvimento da história são ouvidos ou mostrados vários discursos de George W. Bush ou Barack Obama, colocando-se contemporâneo à primeira eleição deste último e com isso clarificando (por vezes até demasiado) o paralelismo que se pretende fazer entre os EUA e a situação ilustrada no filme. No final há uma cena em que Jackie acaba mesmo por discursar, revelando o propósito do filme, fazendo ele próprio a comparação entre o país e um negócio, tendo-se tornado a meu ver no pior momento do filme. Killing Them Softly foi tão óbvio que bombardear a audiência com a conclusão que deveria simplesmente estar implícita, ou à qual poderiam chegar pensando um pouco sobre o filme, é absurdo e estraga o fim da história.
Outra questão a apontar é o ritmo do filme, demasiado lento e com mais que muitos momentos de silêncio no meio das conversas, desnecessários e por vezes irritantes.
Em jeito de conclusão, dizer apenas que Killing Them Softly é um filme engraçado, com um bom enredo e baseado numa metáfora inteligente, que contradiz a velha ideia da terra da oportunidade e liberdade e mostra as consequências da destruição de uma economia - como de resto ocorre hoje em dia com a nossa - mas que, por causa de alguns erros de realização e argumento, ficou aquém da excelência que poderia alcançar.

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Based on the novel by George V. Higgins, Killing Them Softly is an allegory of the american and global economic crisis, here explored through the disruption of a gambling community. It initially follows a couple of naive run of the mill dumb ex-cons who are given the "opportunity" of making money stealing from the poker gamers and letting another take the fall for it. Scoot McNairy and Ben Mendelsohn make for two really funny characters and their conversation while one of them is heroin-high had me laughing throughout. The point of view then changes mostly for Jackie, the "enforcer" hired to investigate the heist and deal with the culprits. Brad Pitt is as good as usual, though his character sometimes walks the line between being mysterious and just outright nonsensical. Speaking of performances, I must also give thumbs up for James Gandolfini as Mickey, a good comic relief halfway through the film.
The predictable beatings and deaths are very well depicted, realistic even, nor too much nor too little bloody or gory and for me became some of the best visual scenes. All along the film we are shown, in parallel to the plot, multiple speeches both from GW Bush and Obama, making clear (sometimes even too much) the point of the film. By the end there is a scene where Jackie is far too straightforward and, first while critiquing one of Obama's speeches and after while talking with his contractor, says word by word what the plot was supposed to make you think about. This was for me the worst moment of the film, absurd, unnecessary and spoiling the end.
The other down point of Killing Them Softly is the pace. It is too slow, had a dozen too many silent moments in the middle of otherwise normal conversations and had me eye-rolling once in a while.
All in all a fun film with a good plot and an intelligent if far too literal metaphor, that rejects that fake awe-inspiring idea of land of freedom and opportunity, shows what can happen when the economy is as broken as ours is right now, but sadly fails to excel.




Tuesday 27 November 2012

Lusitânia - Número 1


Comprei a Lusitânia no dia do seu lançamento, no Fórum Fantástico 2012, e li-a quase de uma assentada só. Trata-se, no fundo, duma pequena antologia de contos que não só se localizam geograficamente em Portugal como pretendem explorar a mitologia e cultura típicas do país. Na maioria dos casos os contos que a constituem contribuem para a sensação geral de que se está a ler sobre Portugal e os portugueses, se não os reais, pelo menos o país ou o povo que podem ou poderiam ser, dado se tratar de ficção especulativa.

Quanto à edição em geral há algumas coisas que merecem referência. A opção de colocar um padrão de fundo nas páginas de cada conto e que varia de um para outro, de certa forma individualizando cada história, parece-me uma ideia interessante, contribui até para a atmosfera que o conjunto cria, mas em dois casos - "Como Portugal foi salvo pelos Pastéis de Nata" e "A Cidade das Luzes" - o padrão foi demasiado forte ou confuso prejudicando a leitura do texto. Uma outra questão, a melhorar em posteriores edições ou números, foi a existência de erros ortográficos ou de edição, destacando aqui o conto "Como Portugal foi salvo pelos Pastéis de Nata", de todos o único cuja leitura foi afectada significativamente por este facto. Outra situação que me parece de relevo, da qual me parece que muitos trabalhos deste tipo sofrem, é a grande diferença de qualidade entre os vários textos. Não sei se isto se deve à falta de submissões de qualidade, se à vontade de cumprir uma certa deadline, se é somente uma questão de perspectiva e opinião pessoal, mas vejo isto em muitas antologias e revistas.

Quanto aos contos em si, vou tentar fazer-lhes justiça comentando-os individualmente.
"Sonhos Numa Noite de Natal" de Marcelina Leandro é uma história pequena e simples que traz consigo uma ideia muito interessante sobre o mundo dos sonhos e a previsão do futuro que sem dúvida merece ser explorada num texto maior e mais elaborado para atingir o seu potencial.
"Vinho Fino" de Inês Montenegro é na minha opinião o melhor conto desta Lusitânia. O conceito já sobejamente utilizado de alienígenas parasitas tem aqui uma visão refrescante, com uma escrita e um contexto diferentes dos da ficção científica "habitual" e que me deixaram com vontade de ler mais, tanto desta história como da sua autora.
"Como Portugal foi salvo pelos Pastéis de Nata" de Catarina Lima é para mim o pior dos contos incluídos o que não se deve somente aos erros acima referidos, mas essencialmente a uma história que parece forçada e mal desenvolvida. Se a ideia na qual se baseia é interessante: as bruxas a voar nas suas vassouras Portugal fora, uma Hogwarts / Brakebills no Chiado e até um mercado mágico no Martim Moniz, o enredo e a cadência da escrita não envolvem o leitor, pelo que acabei por dar comigo a ler alguns parágrafos "na diagonal".
"A Guerra do Fogo" por Nuno Almeida é um conto de especulação fantástica e histórica - como o próprio nome indica - em simultâneo, que está bastante bem imaginado e escrito e que cumpre à medida as intenções anunciadas da Lusitânia. Como única crítica negativa poderia apontar talvez o desenvolvimento lento da história relativamente ao enredo que traz.
"A Cidade das Luzes" deixou-me algo confuso. É um conto eminentemente visual, que nos pede para visualizar cada cena (perdoem-me o pleonasmo) e fazer um filme imaginado com o enredo que nos é entregue, algo que destaco como a sua melhor característica. Infelizmente o enredo nem sempre consegue manter o interesse, é uma distopia à qual falta mais contexto para se tornar credível e nos fazer esquecer a estranheza de imaginar luzes/cores sair do peito das pessoas em direcção aos céus. Por um lado, a ideia da investigação do tratamento do daltonismo em macacos, ainda que dê alguma explicação, aparentemente assumindo o texto como típica ficção científica, não consegue dar à história toda a verosimilhança que necessitaria. Por outro lado cansa esta comum associação da emoção ao peito, ao coração, aqui referida pela forma como as luzes saem do corpo, ainda por cima em direcção aos céus, que corresponde decerto mais a um problema pessoal do que a falta de qualidade do conto em si.
"A Passagem Uivante" de Pedro Cipriano é uma história breve mas arrepiante que lembra o leitor que por detrás das máquinas de guerra estão pessoas que muitas vezes levam pouco mais que ordens e instinto de sobrevivência, sem saber as reais motivações da sua liderança para arriscar as suas vidas e as dos inimigos naquele momento ou naquela situação. Isto é particularmente verdade dos cidadãos de países sujeitos a sistemas totalitários para os quais a única liberdade, ainda que relativa, pode ser, quando muito, a de escolher a hora da morte.

Lusitânia afigura-se assim um projecto que se distingue por se afirmar português não só na autoria, mas na temática em si, dando oportunidade a vários autores de mostrar o que valem na ficção especulativa curta e na exploração da nossa história, da nossa mitologia, da nossa cultura, no fundo, de parte do que nos dá uma identidade colectiva. Os meus parabéns pela iniciativa e pelo resultado final, fica aqui o meu desejo de que continue, que melhore sempre, e que para a próxima seja maior! O entusiasmo da equipa, em especial do Carlos Silva com quem falei mais proximamente, permite-me acreditar que assim será.

Em jeito de disclaimer devo informar que participei neste número através da Clockwork Portugal que teve a oportunidade de contribuir com um pequeno texto em jeito de referência ao nosso trabalho.

Tuesday 20 November 2012

American History X by Tony Kaye

Este filme explora um tema muito importante mas igualmente complexo. Diria que é provavelmente impossível tratar tudo o que há para tratar quanto ao racismo, às suas raízes, às motivações das pessoas para agir e nesse sentido para agir de determinada forma ou doutra. 
Em American History X - em português América Proibida - a história é contada do ponto de vista de um neo-nazi essencialmente em três momentos da sua vida, aquele em que se torna líder de um grupo de jovens racistas - skin heads - até ao ponto em que é preso, o seu tempo na prisão em que vai mudando de atitude e finalmente a saída, após três anos, em liberdade condicional, quando tenta salvar o seu irmão de percorrer o mesmo caminho e proteger a família. A progressão temporal não é linear o que de certa forma aumenta o valor e o interesse de cada parte da história. Esta personagem principal, Derek Vineyard - interpretada genialmente por Edward Norton -, está muito bem desenvolvida e permite uma observação interessante do pensamento e da dialéctica racista. A sua progressão ao longo da história é credível e chama à atenção para comportamentos que é importante conhecer e analisar como o são a liderança e o recrutamento de membros para o seu gang/exército. As restantes personagens têm um papel puramente de suporte, fornecendo o contexto e algumas motivações para o que Derek vai pensando e fazendo, não passando em si mesmas de simples clichés.
De notar que o filme mostra muita violência, por vezes ao ponto de dar vontade de virar a cara ou tapar os olhos, mas que sem dúvida faz sentido nesta história e nesta temática, de forma que em momento algum senti que fosse gratuita ou exagerada.
O meu maior problema com América Proibida consiste nas justificações das mudanças de Derek, demasiado simplistas e típicas, primeiro a morte do pai que parece ser a força motriz para os comportamentos racistas iniciais, depois o seu sofrimento e vontade de proteger a família que o fazem mudar de atitude e criticar as suas acções anteriores e aqueles que assim continuam. Há no entanto duas situações a este nível que merecem destaque pela positiva, tanto pela forma credível como foram apresentadas como pelo interesse para a temática do racismo e dos gangs: a relação de amizade que Derek consegue estabelecer com um prisioneiro negro e a figura de Cam, um nazi mais velho que influencia nos bastidores a criação e gestão destes exércitos de skin heads.
Assim, considero American History X um muito bom filme, daqueles que vale a pena ver, rever e deixar-se ficar a pensar.

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This is a film that tries to tackle a very important but also very complex issue. It's probably impossible to handle all of what can be said on racism, on why people feel it, on why they act on it and how they choose how they act.
In American History X, we are shown the point of view of a neo-nazi. We are shown, in a non linear time scrambling way, his change first towards neo-nazism, then his slow and doubtful turning back from it. I think the main character was well built - Edward Norton is marvellous as Derek Vineyard - and the depiction of the racist thought and dialectic are well put. The rest of the characters are mostly supportive, providing context and motive for the main one, showing nothing beyond the clichés. Derek's transformation into a leader and his recruitment process in order to organize his gang/army were also well developed. There is also a lot of violence in the film, sometimes making you really want to turn your face from the screen, but by no means over the top or beyond what makes sense in this context.
My biggest grudge with American History X are the reasons given for Derek's actions, far too simple and typical, the father killed driving him towards racism and then his own suffering and the will to protect his family causing his repent and changed behaviour. The two good things here are the development of a friendly relationship between him and a black man in prison and the noted smooth background influence of an older nazi first on him and then his brother.
All in all a very good film, worth rewatching and thinking about for a while.

Monday 19 November 2012

Steampunk and Clockwork Portugal or the story of where I've been all this time

Como acontece ciclicamente comigo, mais uma vez passei uma temporada sem produzir conteúdo para o blog. Não que não tenha o que dizer ou vontade de escrever no blog, mas porque o tempo é pouco, a capacidade de concentração é esgotada pelo trabalho e porque há novos projectos a ocupar o que resta de ambos. É disso que decidi falar desta feita, porque este ano tem sido marcado pela minha participação num projecto que envolveu outro blog, um tumblr, uma webseries e uma convenção: a Clockwork Portugal - uma comunidade portuguesa dedicada ao steampunk em todas as suas vertentes.

Nesse sentido, parece-me útil começar por falar do steampunk, mas não me proponho fazer uma definição absoluta ou uma listagem exaustiva do que a ele pertence, somente focar-me no que eu procuro ou no que me promete o steampunk. Apesar de ser fã de ficção especulativa, tanto na literatura como no cinema ou nos jogos, desconhecia o steampunk como género até há bem pouco tempo. Há no entanto elementos tipicamente explorados nos trabalhos que nele se inserem que me interessam particularmente, nomeadamente o impacto na sociedade do desenvolvimento tecnológico e a alteração dos valores e costumes sociais desenvolvida a partir de um contexto extremo como é o do mundo da revolução industrial, do império britânico vitoriano, do declínio do escravagismo, da emancipação da mulher, não só pelo interesse histórico autocrítico e pela exploração do que é ou tem sido a humanidade, mas também pelo paralelismo com o que vivo e vejo na sociedade contemporânea. Aquilo que torna o steampunk reconhecidamente distinto dos restantes tipos de ficção especulativa não é, no entanto, nada disto, mas sim o facto da tecnologia explorada ser a do vapor e das engrenagens. É talvez por esta característica que o steampunk é hoje muito conhecido, associando-se a um autêntico movimento estético, grupos de cosplayers e roleplayers (aqui também a importante influência da roupa e costumes da Inglaterra vitoriana, claro), desenho, pintura, jogos e até um revivalismo das máquinas a vapor ou a corda, das engrenagens visíveis, dos metais não pintados. É importante referir que isto ultrapassa o aspecto estético, havendo vários criadores que trabalham novamente com esta tecnologia para obter gadgets que funcionantes num espirito do-it-yourself que tem estado muito associado ao movimento steampunk. Uma das características importantes da tecnologia da era do vapor, que lhe permite ocupar este lugar de destaque, é o facto de se localizar claramente, do ponto de vista dos leigos, na distinção entre a ciência e a magia. Aliás, tal como Arthur C. Clarke disse no Profiles of the Future"any sufficiently advanced technology is indistinguishable from magic" e de facto nunca mais, desde ultrapassada a era do vapor, nós pudemos dizer que percebemos bem o funcionamento das máquinas das quais o nosso dia a dia e a nossa sociedade dependem. Talvez seja também por isso que nas obras steampunk se vê frequentemente um cruzamento entre a ficção científica e fantasia com feitiçaria, demónios ou monstros, normalmente em conflito uns com os outros. Sendo este um dos tais elementos que me estimula a procurar trabalhos deste género, o outro não menos importante é o facto de permitir explorar e questionar os costumes, a moral, o que é suposto ser ou fazer, o tradicional "tem que ser". O tal espírito autocrítico, de repensar a sociedade e a humanidade, em especial no que toca a estas temáticas, é algo que não só me interessa como me parece de especial utilidade na nossa evolução. Não chega saber a história, não chega aprender com o que aconteceu, é importante explorar bem os processos, o que levou a certo tipo de acontecimentos, a cada organização ou estratificação da sociedade, a certa definição do que está certo ou errado, do que é melhor ou pior, etc.. Só assim podemos ultrapassar os preconceitos estabelecidos que nos prendem e nos limitam o raciocínio e a acção sobre as pessoas e o mundo. A ficção especulativa de grande qualidade sempre teve esse papel, seja a ficção científica futurista ou espacial, seja a ficção histórica, seja a distópica, e neste contexto o steampunk tem um papel especial por se localizar temporalmente num momento da nossa história do qual conhecemos muito do que correu bem e mal, do que aconteceu antes, durante e depois, e acima de tudo, porque é muito claro o sistema de valores e moralidade vigente na altura o que torna mais fácil jogar com tudo isto ou tentar prever as consequências de alterar algum factor. Desde a igualdade de direitos entre os sexos e raças, da importância de cada indivíduo se submeter ao que a sociedade lhe força ou pelo contrário seguir o seu próprio caminho contra tudo o que é suposto, ao valor do e segurança no trabalho e à dependência crescente da sociedade de fontes de energia específicas e muito mais, são várias as situações que uma obra steampunk pode usar para nos dar food for thought. Claro que nenhuma obra trata tudo isto, e alguns livros supostamente steampunk fazem pouco mais que incluir um herói e um cientista maluco com máquinas a vapor, mas são estas possibilidades que me mantém interessado no género literário.

Explicado que está o meu gosto pelo steampunk como temática, percebe-se porque me senti aliciado a ajudar as minhas amigas com o seu projecto de criar uma comunidade steampunk portuguesa e preparar a participação do nosso país na EuroSteamCon, uma convenção internacional multicêntrica simultânea. Se inicialmente a minha oferta de ajuda foi algo genérica, acabei por me tornar parte integrante da equipa, junto com a Sofia Romualdo, a Joana Lima e o Rogério Ribeiro. A princípio a minha ideia era ajudar com o blog, escrever sobre livros, séries, jogos, notícias, mas de repente dei por mim a filmar uma webseries sobre obras steampunk (ver links abaixo) e a ficar responsável pelo tumblr onde partilhamos trabalhos que se integram no género. Como se isto não chegasse, ainda conseguimos decidir que a nossa participação na EuroSteamCon - ainda que a primeira e apesar da inexperiência da maior parte da equipa - seria uma convenção propriamente dita, com direito a dois dias de programação. Parece que isto chegaria para ocupar o que resta do nosso tempo livre (em especial considerando que a minha participação se cinge às horas livres após emprego oficial) e da nossa margem de manobra financeira (patrocínios em € = 0) mas na verdade não ficámos por aqui. Decidimos preparar para este momento um Almanaque Steampunk, para o qual aceitámos trabalhos submetidos por qualquer pessoa no final de Julho e primeira quinzena de Agosto. A escolha dos textos, preparação das nossas próprias participações, edição e afins tarefas ocuparam muito mais tempo e deram muito mais trabalho do que o que eu esperava (e lembrar que foi neste momento que, no contexto de fazer o trabalho de design para o almanaque, conseguimos mais uma colaboradora, a Joana Maltez), mas tenho que admitir que ter o livro na mão e depois lança-lo na convenção me deu uma sensação de realização pessoal raramente atingida noutras situações. A EuroSteamCon - Porto, que tivemos o prazer de realizar no Parnaso, foi um desses momentos: os convidados foram fenomenais, tivemos casa cheia nos dois dias e a interacção com as pessoas foi fantástica. Temos o hábito de falar do quanto "outras pessoas" conseguem fazer, de quantas coisas acontecem "noutro lugar" e de repente provámos a nós próprios que mesmo sem apoio monetário, mesmo a começar do nada, com esforço e dedicação algumas coisas são possíveis. Tenho que dizer claramente que não estou com isto a tentar glorificar o trabalho voluntário, aliás a minha experiência permite-me afirmar com facilidade que um projecto como este com pessoas remuneradas, com horas dedicadas e fundo de maneio correria ainda melhor, tanto para os organizadores como para os participantes. Mas olhando para o que conseguimos, para os projectos de que fiz parte ao longo deste ano, só posso sentir orgulho.

Para quem quiser saber mais sobre tudo isto:


 - Tumblr (o meu novo trabalho a tempo inteiro :)

 - Diários Steampunk (a tal webseries)

 - Almanaque Steampunk (ler, ler!)


Por fim, há mais um motivo para eu não ter tempo para escrever no blog: agora tenho dois gatos, um que dorme em cima de mim quando estou ao computador ou então tenta trepar cortinas e outro que só se estiver a dormir é que para de por a minha casa em perigo de precisar de um "Extreme Makeover".